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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

Ghais Guevara - Goyard Ibn Said (2025)

                         

Ghais Guevara é um rapper que embora não tenha um nome muito reconhecido e possua a popularidade de outros nomes do gênero, tem uma base fiel de admiradores devido a sua autenticidade. Guevara se destaca na cena do hip-hop contemporâneo principalmente em meio ao movimento underground e se distingue por abordar temas profundos e relevantes, ao mesmo tempo em que mistura uma reflexão social com uma fluidez lírica.

Transitando entre o trap e o rap mais tradicional, Guevara usa de uma maneira bastante inteligente a música como uma plataforma que explora questões pessoais, políticas e sociais, sempre por meio de letras que são repletas de metáforas e simbolismos que refletem sua visão de mundo ao mesmo tempo que fazem que o ouvinte se questione sobre a realidade em que vive. 

Embora a sua carreira ainda esteja em um estágio em que ele busca maior visibilidade no mainstream, Guevara tem um impacto significativo dentro do nicho que ele ocupa, com muitos críticos e público da cena reconhecendo seu potencial. Desta forma, sua presença é forte no cenário do rap independente, onde continua a explorar seu próprio crescimento pessoal sempre com uma voz autêntica e sem medo de se expor.

Goyard Ibn Said é um disco que marca um momento significativo na trajetória de Guevara, afinal, não é apenas sua primeira grande obra completa, mas também seu primeiro trabalho sob o selo da gravadora Fat Possum Records. 

O disco se destaca por sua abordagem conceitual, sendo dividido em duas partes distintas com cada uma explorando diferentes nuances da experiência dentro da cultura hip-hop. Ao longo das faixas, o rapper constrói uma narrativa rica e multifacetada, refletindo sobre os desafios, os triunfos e as contradições que acompanham a ascensão à fama no universo do rap. Através de letras afiadas e uma identidade sonora particular, o álbum mergulha em temas que vão desde a autenticidade artística e a luta contra a comercialização da música até as pressões sociais e psicológicas impostas pela indústria.

Na primeira parte do disco, Guevara constrói a narrativa da ascensão meteórica de um protagonista fictício, Goyard, uma figura que encarna o arquétipo do anti-herói dentro do universo do hip-hop mainstream. Goyard representa o artista que atinge o sucesso absoluto, navegando por um mundo repleto de luxúria, ostentação e poder, onde a fama e a fortuna são vistas como a consagração definitiva. As faixas dessa primeira seção mergulham nas tentações e prazeres do estrelato ao explorarem a grandiosidade do reconhecimento público, a adulação dos fãs, as riquezas acumuladas e a sensação intoxicante de estar no topo da indústria. Ao mesmo tempo, Guevara tece reflexões sobre o deslumbramento e a superficialidade que muitas vezes acompanham esse tipo de trajetória e sugere que a glória do sucesso podem ser tão efêmera quanto sedutora.

No entanto, a segunda parte do álbum toma um rumo inesperado e mais sombrio, trazendo um forte contraste com a euforia inicial. O foco passa a ser as experiências trágicas e os desafios devastadores enfrentados por Goyard no auge de sua carreira. Aqui Guevara destrói a ilusão do sucesso absoluto, expondo as consequências da fama desenfreada e a verdadeira face da indústria musical. As músicas exploram temas como a exploração dos artistas, a pressão insustentável para se manter relevante, o isolamento emocional, os abusos e as traições que podem acompanhar o estrelato. Desta forma, a narrativa se desenrola como uma advertência contra as armadilhas do show business e entrega uma visão crítica e realista sobre o custo psicológico e humano da busca incessante pelo topo.

Musicalmente o disco se destaca pela sua abordagem que equilibra experimentalismo e tradicionalismo dentro do hip-hop. O álbum percorre uma ampla gama de estilos ao incorporar elementos clássicos do boom bap, recortes sofisticados de soul e jazz, sintetizadores futuristas, batidas quebradas e texturas eletrônicas vanguardistas, resultando em uma estética sônica que consegue transitar com fluidez entre o passado, o presente e o futuro do gênero. 

Guevara demonstrou seu domínio tanto como compositor quanto produtor ao escrever e produzir a maior parte de Goyard Ibn Said, entregando ao álbum sua visão artística completa, porém, ele contou com a colaboração de produtores e artistas que o ajudaram a expandir ainda mais a sonoridade do projeto. Nomes como purdyflacks, LILITH e DJ Haram que trouxeram suas próprias influências e estilos, enriquecendo ainda mais a produção.

Sobre os artistas que aparecem em algumas faixas, Yoko McThuggin, com seu estilo agressivo contribui para a faixa "Monta Ellis", trazendo uma energia intensa e visceral. FARO, em "Yamean", entrega uma performance introspectiva que se completa com o tom melancólico da música. ELUCID, em "Bystander Effect", traz uma abordagem lírica contemplativa, enquanto McKinley Dixon, que é conhecido por seu lirismo e estilo técnico, acrescenta sua marca em "The Apple That Scarcely Fell", com uma entrega carregada de emoção.

Além das contribuições vocais e de produção, o álbum conta com o toque especial de alguns instrumentistas que foram essenciais para que fosse possível chegar na sonoridade do projeto. Seb Zel, com sua guitarra em “L4” adiciona camadas de textura meditativas, enquanto Desmond Teague, com seus instrumentos de sopro, cria uma atmosfera sonora única, trazendo uma elegância e uma sofisticação quase jazzística em "The Apple That Scarcely Fell", que se entrelaça com os elementos do hip-hop, na mesma faixa ainda tem a participação de Annie Elise, com seu trabalho de cordas. 

A combinação desses talentos que acompanharam Guevara, conferiu a Goyard Ibn Said uma grande versatilidade sonora e permitiu que o álbum fosse além das fronteiras tradicionais do hip-hop. O resultado é um disco musicalmente rico e repleto de texturas que proporcionam uma experiência imersiva para o ouvinte.

NOTA: 8,1/10

Gênero: Hip Hop

Faixas:

1. Introduction To Act 1 - 1:29
2. The Old Guard Is Dead - 3:04
3. Leprosy - 3:25
4. 3400 - 3:22
5. I Gazed Upon The Trap With Ambition - 3:59
6. Monta Ellis (feat Yoko McThuggin) - 3:12
7. Yamean (feat FARO) - 3:25
8. Camera Shy - 3:06
9. Introduction To Act 2 - 0:55
10. Bystander Effect (feat ELUCID) - 3:05
11. 4L - 4:06
12. The Apple That Scarcely Fell (feat McKinley Dixon) - 3:55
13. Branded - 3:25
14. Critical Acclaim - 3:46
15. Shaitan's Spiderweb - 4:42
16. You Can Skip This Part - 4:49

Onde Ouvir: Plataformas de Streaming, Bandcamp e Youtube

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