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domingo, 19 de janeiro de 2025

30 anos de: Mellon Collie and the Infinite Sadness - The Smashing Pumpkins (1995)

                                        

Mellon Collie and the Infinite Sadness é o terceiro álbum de estúdio do Smashing Pumpkins e um dos trabalhos mais influentes da década de 1990. O álbum duplo é uma obra que transcende os limites do rock alternativo, explorando uma vasta gama de estilos musicais que vão do rock pesado e grunge às baladas introspectivas, além de passar por influências de música clássica, eletrônica e até traços de pop experimental. 

O disco é marcado por uma estética onírica e surreal na maneira como ele foi idealizado ao ser feito para ser ouvido como uma experiência imersiva e coesa, sendo mais do que uma simples coleção de músicas uma após a outra. Mellon Collie and the Infinite Sadness é um verdadeiro testemunho da ambição artística da banda e onde ela se consolida como um dos nomes mais relevantes e inovadores do rock alternativo – ainda que o disco vá muito além disso. Suas 28 faixas se tornaram um retrato da década e garantiram ao álbum um legado atemporal que continua a ressoar profundamente.

Billy Corgan apresentou o disco como um retrato da "condição humana" visto pelos olhos de um jovem em plena transição para a vida adulta. Sua intenção foi construir uma obra que capturasse a profundidade emocional da juventude — marcada pela intensidade das paixões, pelas incertezas e pela incansável busca por propósito. Ainda assim ele buscou ir além do contexto pessoal ou geracional ao criar algo que ressoasse de forma universal e atemporal.

O álbum é um equilíbrio entre extremos emocionais e sonoros. Ele alterna momentos de raiva visceral e energia explosiva com passagens de melancolia delicada que são pontuadas por breves respiros de otimismo contemplativo. Essa dualidade cria um mosaico de emoções que reflete não apenas os altos e baixos de uma fase específica da vida, mas também as experiências humanas que nos conectam através do tempo. O resultado é uma narrativa musical que captura tanto a urgência de um momento quanto a essência das emoções que nos tornam quem somos.

Os dois discos que compõem o álbum, Dawn to Dusk e Twilight to Starlight, funcionam como capítulos complementares de uma narrativa metafórica muito bem construída. Dawn to Dusk, o primeiro disco, é uma ode ao nascer e ao declínio do dia, simbolizando os momentos de euforia, descoberta e as lutas iniciais da vida. Já Twilight to Starlight mergulha no mistério envolvente da noite e no brilho distante das estrelas, algo que serve como uma representação mais profunda e contemplativa. Ele explora temas como introspecção, perda, amadurecimento e finalmente a aceitação. 

Juntos esses dois capítulos criam um ciclo emocional e temático que espelha as dualidades da existência como luz e sombra, caos e calma, alegria e tristeza, sempre dentro de um panorama musical e lírico que é tanto grandioso quanto intimista. Essa estrutura não apenas dá coesão à obra, mas também reforça sua universalidade e permite que cada ouvinte encontre fragmentos de sua própria jornada ao longo desse percurso artístico.

Billy Corgan revelou que Mellon Collie... foi bastante inspirada por The Wall e The White Album. Ele desejava que o disco funcionasse como um feito artístico que expressasse tanto a identidade criativa da banda quanto uma ampla gama de emoções e temas que ressoassem com o público. Essa ambição resultou em um álbum original e que soube explorar novos territórios sonoros enquanto ainda preservava a essência do rock alternativo da banda. De certa forma, podemos dizer que Corgan via o álbum como uma oportunidade de marcar uma geração e tentar capturar a intensidade da juventude e traduzi-la em algo atemporal. Essa abordagem que mesclava inovação e introspecção se posicionou como uma das maiores realizações artísticas do rock dentro de uma década cheia de clássicos. 

O álbum contém 28 faixas, então eu não irei abordar cada uma delas. Em vez de me estender sobre todas as músicas eu vou destacar algumas faixas. Em Dawn to Dusk, o primeiro disco, "Tonight, Tonight" rouba a cena por meio de sua linha orquestrada emocional que mistura uma espécie de sensação de euforia e esperança com uma melancolia suave e introspectiva. A faixa captura perfeitamente a ideia de uma luta interna em busca de algo mais profundo e significativo.

"Jellybelly" é uma faixa bastante crua, caótica e sem dúvida é uma das composições mais intensas do álbum ao carregar uma atmosfera quase claustrofóbica que reflete a confusão interna de uma luta por identidade. A música encapsula um sentimento de descontrole, como se alguém estivesse preso em uma tempestade de pensamentos e emoções conflitantes. Possui uma letra que é bastante direta e que completa essa sensação de desorientação causada pela música, transmitindo uma visão de alguém que tenta de toda forma encontrar sentido no núcleo de uma desordem completa da vida. 

“Zero” é uma das faixas mais marcantes não apenas do primeiro disco ou do álbum como um todo, mas de toda a carreira do grupo. Bastante enérgica devido a abordagem do seu tema central - que em meio a uma sonoridade crua, mergulha no vazio existencial e explora o desespero de se sentir preso em um ciclo interminável de apatia e frustração -, a peça entrega uma sonoridade visceral que parece gritar intensamente tanto quanto as palavras de Corgan.

"Bullet with Butterfly Wings" é o maior hino da banda, sendo sua música mais tocada na história dos concertos do grupo. A mistura de guitarras pesadas e vocais intensos, além de uma composição sombria cria uma atmosfera que não apenas expressa essa raiva, mas também canaliza uma energia catártica. Ao mesmo tempo que é uma música que dá voz ao desespero, ela também carrega um fio de determinação, o que faz dela um dos momentos mais poderosos do disco e de toda a carreira da banda. 

"Muzzle" é uma das minhas músicas preferidas da banda. Possui algumas ótimas transições entre os versos e o refrão, criando assim, um excelente equilíbrio entre tensão e libertação que se apoia em guitarras pulsantes e uma bateria e baixo marcante que criam uma base rítmica dinâmica, enquanto Corgan entrega uma de suas melhores performances vocais no disco, soando em um tom de muita paixão e emocional. Dentro dessa energia vibrante existe uma letra que traz reflexão sobre a liberdade pessoal e a busca por uma identidade mais autêntica.

"Cupid De Locke" atua como um momento de respiro dentro do fluxo intenso de Dawn to Dusk e que se destaca pelo seu contraste com as faixas mais pesadas do álbum. Musicalmente é construída sobre uma instrumentação de camadas suaves e que inclui texturas oníricas de cordas e alguns elementos percussivos discretos que criam uma atmosfera contemplativa. A narrativa é uma reflexão poética sobre o amor e o desejo enquanto se navega pelas incertezas da vida, soando bastante condizente com a sua sonoridade.

O segundo disco, Twilight to Starlight, também contem peças que se destacam, sendo uma delas, “1979”. Possui uma sonoridade distinta que combina muito bem o rock alternativo com o dream pop. A seção rítmica é simples, enquanto as guitarras são atmosféricas e os sintetizadores soam acolhedores. Sua vibe introspectiva fazem dela mais uma das faixas que possuem um contraste claro em relação às peças mais intensas do disco. Enquanto isso, Corgan pinta um retrato vívido de liberdade e descobertas juvenis, capturando tanto essa liberdade e as descobertas dessa fase quanto a sensação de perda que vem com sua passagem.

“Bodies” é uma das peças mais pesadas do disco. O contraste entre os momentos de explosão e breves instantes de pausa enfatiza ainda mais a energia crua da música. A performance vocal de Billy Corgan é desesperada e impetuosa, como se estivesse canalizando uma raiva interna e a transformando em som puro. Essa agressividade faz da faixa um dos momentos de mais catarse de todo o disco. A repetição de “Love is suicide” transmite uma visão crua e fatalista do amor ao explorar a sua natureza autodestrutiva, enquanto frustração, dor e a inevitabilidade de relações marcadas pelo sofrimento.

“Thirty-Three” é uma balada introspectiva e etérea que possui uma qualidade quase meditativa na progressão dos acordes que junto aos vocais contidos de Corgan transmite uma calma profunda, soando como se fosse o reflexo de uma aceitação emocional após períodos de turbulência. O arranjo é contido, mas profundamente expressivo e permite que cada elemento brilhe sem sobrecarregar a canção. É um momento de pausa e reflexão dentro do álbum e que traz um equilíbrio perfeito entre melancolia e esperança. Uma música que entrega uma sensação de paz após tempos turbulentos.

“X.Y.U.” com mais de sete minutos é a segunda música mais longa do disco – só ficando atrás de “Porceline Of The Vast Oceans” do disco um e que passa dos nove minutos. É mais um dos momentos mais caóticos do disco, alternando entre trechos furiosos e outros mais calmos, mas que aumentam a tensão da música. Possui uma seção rítmica agressiva e riffs densos de guitarra. Dentro desse turbilhão sonoro, uma letra cheia de imagens violentas e desconexas, soando como um grito primal de dor, traição e desespero e que reflete o lado mais sombrio do disco.

“In the Arms of Sleep” é uma balada melancólica que se apresenta como um dos momentos mais delicados do disco. Sua melodia conduzida por um violão cria uma atmosfera reconfortante, enquanto os vocais de Corgan soam de uma maneira contemplativa e que reforça o tom emocional de um trabalho lírico que aborda uma reflexão delicada sobre a necessidade de consolo em momentos de solidão.

“Tales of a Scorched Earth”, por mais que possa parecer inusitado, mas o seu início muito provavelmente pode ter servido de inspiração para o Dream Theater em “Panick Attack”. Com guitarras pesadas e vocais distorcidos, além de uma produção áspera, ela tem um ritmo implacável, onde as suas camadas de ruído criam uma sensação de desordem, porém, organizada. Apesar de sua abordagem brutal, há uma precisão na execução que evidencia a habilidade da banda em equilibrar o caos com a estrutura musical. Uma expressão niilista por meio de um grito de desespero e raiva e que exemplifica o tom mais sombrio de Twilight to Starlight.

Mais do que um simples álbum de rock alternativo, Mellon Collie and the Infinite Sadness é uma obra que transcendeu barreiras musicais e se tornou um marco cultural e artístico. Essa diversidade não fragmentou o álbum, muito pelo contrário, ela o transformou em uma experiência coesa e que refletem de certa forma tanto os conflitos internos quanto os dilemas coletivos de uma geração. Mesmo 30 anos após seu lançamento, ele permanece tão relevante quanto no dia em que foi lançado. Um álbum que não apenas capturou o espírito dos anos 1990, mas também se estabeleceu como um testemunho atemporal do talento extraordinário do Smashing Pumpkins. 

NOTA: 10/10

Gênero: Rock Alternativo

Faixas:

Dawn to Dusk:

1. Mellon Collie and the Infinite Sadness - 2:52
2. Tonight, Tonight - 4:14
3. Jellybelly - 3:01
4. Zero - 2:40
5. Here Is No Why - 3:44
6. Bullet With Butterfly Wings - 4:17
7. To Forgive - 4:16
8. An Ode to No One - 4:51
9. Love - 4:21
10. Cupid de Locke - 2:50
11. Galapogos - 4:46
12. Muzzle - 3:44
13. Porcelina of the Vast Oceans - 9:21
14. Take Me Down - 2:52

Twilight to Starlight:

1. Where Boys Fear to Tread - 4:23
2. Bodies - 4:12
3. Thirty-Three - 4:10
4. In the Arms of Sleep - 4:12
5. 1979 - 4:25
6. Tales of a Scorched Earth - 3:45
7. Thru the Eyes of Ruby - 7:38
8. Stumbleine - 2:54
9. X.Y.U. - 7:07
10. We Only Come Out at Night - 4:05
11. Beautiful - 4:18
12. Lily (My One and Only) - 3:31
13. By Starlight - 4:48
14. Farewell and Goodnight - 4:22

Onde Ouvir: Plataformas de Streaming e Youtube

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