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quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

The Weather Station - Humanhood (2025)

                                       

The Weather Station é um projeto liderado pela canadense Tamara Lindeman. Suas composições se destacam pela profundidade com que são explorados temas diversos muitas vezes dentro da complexidade envolta das nossas emoções. Combinando letras introspectivas e poéticas com melodias atmosféricas e bem construídas, o projeto apresenta arranjos muito bem elaborados que transitam entre o folk tradicional, indie rock e até mesmo algumas nuances jazzísticas que juntos criam dessa forma uma sonoridade envolvente.

O projeto ao longo dos anos passou por uma clara evolução. Enquanto os primeiros álbuns apresentavam um estilo mais acústico e enraizado no folk tradicional, os trabalhos mais recentes entregam uma abordagem mais expansiva. Com o álbum "Ignorance" (2021), Tamara trouxe uma transformação sônica ao incorporar elementos de art pop e jazz que ampliaram a sonoridade do projeto. Instrumentos como cordas, teclados e saxofones são utilizados na construção de paisagens sonoras sofisticadas que enriquecem as narrativas de suas letras. 

Coproduzido por Lindeman e o seu experiente parceiro musical Marcus Paquin, Humanhood álbum foi gravado ainda em 2023 trazendo consigo uma sonoridade cheia de sofisticação dentro de uma fusão rica de pop, folk, indie rock, jazz e música ambiente, criando dessa forma uma experiência sonora que é ao mesmo tempo expansiva e intimista. A atmosfera do álbum é amplificada pelo uso de arranjos texturizados e bastante detalhados que possuem a capacidade de evocar tanto vulnerabilidade quanto força.

“Descent" abre o álbum com uma introdução instrumental breve e atmosférica. Apresenta um arranjo minimalista de flauta e uma melodia etérea que sugere introspecção e mistério. "Neon Signs" surge de forma orgânica mantendo a batida deixada por "Descent", como se ambas as faixas estivessem conectadas em um fluxo contínuo. A música entrega uma mescla de indie rock e pop atmosférico com uma batida de ritmo ininterrupto, enquanto isso, os sintetizadores criam uma paisagem sonora envolvente e as guitarras apesar de discretas adicionam belas camadas. 

“Mirror” é uma das faixas mais sofisticadas do disco, oferecendo uma instrumentação muito bem cuidada e excelente atmosfera. Traz alguns elementos de jazz contemporâneo que adicionam tanto profundidade quanto complexidade à música. A bateria é fluida e discreta e os “ataques” de saxofone feitos de maneira orgânica em momentos pontuais adicionam um charme especial. "Window" se constrói sobre uma batida sólida e cadenciada com uma percussão bem pronunciada que confere à música um impulso contínuo, como se estivesse empurrando o ouvinte para frente. A batida não apenas dá movimento à música, mas também a coloca em um território mais rítmico, enquanto sua letra parece capturar o momento exato em que alguém toma coragem para abandonar uma situação sufocante.

“Passage” é um pequeno interlúdio instrumental de menos de um minuto baseado em texturas eletrônicas ambientais. "Body Moves" é uma faixa que se sustenta em um groove ritmado e dançante. Possui algumas linhas profundas e marcantes de baixo que dão à música uma base sólida e cheia de ritmo. Possui uma influência de funk que adiciona um dinamismo contagiante que faz a música remeter imediatamente ao desejo de movimento e dança. Inclusive, o vídeo oficial é apenas uma câmera focada em Tamara realizando alguns leves movimentos. 

"Ribbon" é uma composição acústica que se destaca pela sua simplicidade e delicadeza. A faixa possui um arranjo sutil de piano que cria uma atmosfera íntima e introspectiva. À medida que avança, sua sonoridade vai se expandindo e conferindo à faixa uma qualidade onde cada acorde soa como se estivesse sendo cuidadosamente projetado para evocar uma emoção profunda. “Fleuve”, com pouco mais de um minuto, é mais um interlúdio que nasce e termina por meio das mesmas notas de piano deixado pela faixa anterior.

"Humanhood", a faixa-título é uma fusão que combina muito bem elementos de folk e jazz, criando desta forma uma sonoridade quase sedutora. A base da música é construída por arranjos de sopro que adicionam uma textura rica e fluida, enquanto a bateria mantém uma sensação de introspecção, mais ou menos como uma espécie de compasso reflexivo e que convida o ouvinte a mergulhar na música.

"Irreversible Damage" é uma faixa mais sombria e melancólica que possui uma enorme profundidade emocional que transborda de cada acorde. O contrabaixo acústico entrega algumas linhas expressivas que parecem refletir a densidade do sentimento da música, enquanto a bateria cria uma textura sonora que permite que cada elemento respire e se desenvolva perfeitamente. A forma que os instrumentos interagem entrega uma forte influência no jazz contemporâneo. 

"Lonely" é uma balada de arranjo minimalista e que permite que a sua emotividade se manifeste de forma pura e direta. Uma seção rítmica de notas delicadas e espaçadas cria uma sensação de solidão e cura emocional – que são os seus temas líricos. Leves sintetizadores atmosféricos preenchem o espaço com sutileza e mostram um exemplo claro de uma música que se constrói dentro de um equilíbrio perfeito entre o silêncio e a expressão. 

"Aurora" é o terceiro interlúdio do álbum, uma peça etérea de pouco mais de um minuto e meio que funciona como uma pausa meditativa.  É uma interação delicada entre o piano e a flauta que trocam melodias suaves em um diálogo introspectivo. A sonoridade atmosférica do sintetizador preenche o fundo suavemente. 

"Sewing" é a música de encerramento. Começa com uma bateria solitária, mas logo em seguida o piano entra suavemente acompanhando a voz delicada de Tamara que flui com leveza e serenidade, dando à música uma sensação de intimidade e fragilidade. Uma flauta surge de forma suave, como um abraço musical que envolve o ouvinte, então que um som ao fundo vai crescendo gradualmente e cria uma tensão que permeia o ambiente até silenciar repentinamente, deixando a música segue por meio de piano e voz até terminar. 

Apesar de suas abordagens cruas, introspectivas e profundas, Humanhood oferece uma visão sensível e verdadeira sobre temas universais como solidão, identidade, desilusão, amor e desejo, tudo isso dentro de uma musicalidade que se destaca pela sofisticação dos arranjos que combinam elementos de folk, jazz, pop e música ambiente de forma fluida e envolvente, enquanto que as interpretações emocionais de Tamara Lindeman transmitem uma vulnerabilidade que dá vida a cada palavra e nota. 

Por fim, Humanhood não é apenas uma coleção de músicas, ele também é uma jornada dramática e comovente que vai além da superfície ao convidar o ouvinte a refletir sobre sua própria humanidade, suas contradições e as complexidades do que significa ser verdadeiramente humano. 

NOTA: 9/10

Gênero: Art Pop, Art Rock

Faixas:

1. Descent - 1:00
2. Neon Signs - 5:07
3. Mirror - 4:56
4. Window - 2:41
5. Passage 0:48
6. Body Moves - 3:27
7. Ribbon - 3:18
8. Fleuve - 1:10
9.Humanhood - 4:11
10. Irreversible Damage - 5:36
11. Lonely - 4:36
12. Aurora - 1:37
13. Sewing - 5:58

Onde Ouvir: Plataformas de Streaming e Youtube

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