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sábado, 25 de janeiro de 2025

Gumshoes - Bugs Forever (2025)

                                       

Pelo menos até o momento que escrevo essa resenha, Gumshoes parece ser uma banda cercada por um curioso véu de mistério. Apesar de ter me esforçado bastante, não obtive sucesso algum em encontrar muitas informações relevantes sobre eles. Tudo o que sei é que o líder do grupo é Sam Parks. De qualquer forma, Bugs Forever chamou minha atenção ao entregar uma música simples e despretensiosa, mas de qualidade. 

O disco mistura de uma maneira muito bem-feita a energia crua e emocional da música indie com a sofisticação sonora do pop de câmara. Cada faixa é construída com arranjos delicados e espontâneos, além de cheios de vida, sendo o tipo de disco onde melodia e textura se entrelaçam de uma maneira harmoniosa e gostosa de ouvir. Existe algo bastante autêntico e emocional em cada canção e que faz parecer que estamos ouvindo fragmentos de um diário sonoro.

“Cockroach Song” começa o disco por meio de uma sonoridade edificante liderada principalmente por violão e piano em cima de uma batida média, com a banda criando uma atmosfera leve e quase esperançosa. Porém, apesar de musicalmente otimista, sua letra sobre a sobrevivência e o peso emocional de viver em um mundo caótico e violento que contrasta profundamente com essa sonoridade.

“Can’t Complain”, em meio a uma reflexão sarcástica sobre a vida, o caos e a adaptação ao sofrimento, a banda entrega uma peça melodicamente leve e que remete bastante à primeira fase dos Beatles, com seus acordes simples e alegres, além de uma sonoridade quase que descompromissada, porém, sem perder o foco em sua crítica social. “Bad Omens” é um dos momentos mais alto astral do disco. Possui uma energia contagiante que é conduzida por uma instrumentação vibrante e que combina riffs cativantes e uma batida pulsante, enquanto cria uma atmosfera que imediatamente prende o ouvinte. A letra parece ser da perspectiva de uma pessoa assombrada pela sensação de que tudo ao seu redor – incluindo fenômenos bonitos e inofensivos - são na verdade maus presságios.

“Little Things”, ao mesmo tempo que pode ser vista como uma ode a aceitação da pequenez humana, também serve como uma busca por significados. Musicalmente é uma balada reconfortante que se constrói em torno de uma linha de piano edificante. É o tipo de música que convida o ouvinte a pausar, refletir e se perder em seus próprios pensamentos. 

“Supermoon” é uma faixa que se destaca pela sua atmosfera envolvente e por evoca um charme literário e melódico que lembra a sonoridade da banda Decemberists. A construção instrumental tem a capacidade de criar paisagens sônicas cheias de nuances. Até mesmo os vocais de Sam Parks nesta música remetem tanto ao estilo de Colin Meloy. A letra é um tanto paradoxal, afinal, um dos temas é a esperança em buscar algo inatingível. 

“The Floor Is Yours” é uma faixa que encanta pela simplicidade e pela atmosfera intimista que cria. Com uma abordagem basicamente acústica a música transmite uma sensação de tranquilidade e nostalgia, como se fosse feita para momentos compartilhados ao ar livre, sendo uma espécie de celebração do silêncio como uma oportunidade para a criação de algo, mas deixando claro que é nossa responsabilidade preencher esse vazio com algo significativo, seja através da arte, da reflexão ou outra coisa. 

“Settle Down” possui uma instrumentação bastante alegre, otimista, vibrante e leve que desfila muito bem sob um retrato de como as vidas humanas, mesmo com todas as suas complexidades podem ser contadas através de detalhes simples, como marcas em uma porta, fotos antigas, vestidos guardados e os sinais do tempo. “Paradise Is Green” é um pop rock de ritmo médio que cativa logo de início por meio do seu piano simpático e que conduz a música de forma suave e acolhedora. A instrumentação é equilibrada em um tom ligeiramente nostálgico, mas que não perde a sua energia e cria uma sensação de movimento constante, enquanto isso, entrega uma visão poética de como a civilização humana é temporária e por fim substituída pela natureza.

“Alexandria”, inicialmente tem uma batida que parece ter sido tirada de algum disco da Joss Stone, afinal, há um groove sensualmente rítmico que cativa o ouvinte de forma quase que instantânea. A morte é um dos seus temas centrais ao focar que apesar dos nossos esforços, acabamos sendo "perdidos" no grande ciclo da existência. “Bugs Forever” direciona o disco novamente para uma linha mais otimista e vibrante. Musicalmente irradia uma sensação de leveza por meio dos seus arranjos mais dinâmicos e uma melodia que quase transborda de vitalidade, soando como um tipo de faixa que faz você se sentir mais leve e animado, disposto a dar um passo em direção a uma nova fase de renovação ou libertação, porém, liricamente é bastante cruel ao usar metáforas e imagens viscerais que revelam uma visão pessimista e desencantada do mundo.

“Playing Pretend” é uma faixa que se equilibra entre a introspecção lírica e uma sonoridade reconfortante, soando como um paradoxo. A letra aborda a constatação de que por mais que queiramos manter as coisas boas conosco, elas são temporárias. No entanto, a música oferece uma camada de contraste interessante, afinal, apesar da profundidade da letra, o astral sônico tem um tom quase triunfante, com arranjos que transmitem uma sensação de celebração e um tipo de energia que seria perfeito para encerrar os concertos da banda.

"Suckers" é a faixa que encerra o álbum com um toque emocional ao mesmo tempo em que mantém o humor característico de boa parte do disco. A música se desenrola como uma narrativa honesta sobre as complexas dinâmicas familiares, onde o amor e a frustração coexistem em um equilíbrio muitas vezes desconfortável, mas real. A sonoridade tem uma vibração descomplicada e com arranjos que equilibram o tom descontraído e a profundidade da mensagem. Novamente, apesar da banda tocar em um tema potencialmente pesado, a música não se perde em melancolia ou pessimismo. 

No geral, embora Bugs Forever talvez não seja um disco que cause um impacto imediato ou desperte aquela vontade irresistível de apertar o replay logo após a primeira audição, ele cumpre muito bem o papel de entreter do começo ao fim. Com músicas bem compostas, o álbum demonstra a habilidade da banda em equilibrar temas reflexivos com melodias acessíveis. Cada faixa contribui para criar uma experiência coesa e agradável, ainda que sem grandes surpresas ou momentos de genialidade inquestionável.

O ponto forte de Bugs Forever está na forma como ele mantém o ouvinte engajado, transitando habilmente entre atmosferas otimistas, introspectivas e até sarcásticas, sem perder o fio condutor. É um disco que não pretende reinventar o gênero, mas que sabe como explorar bem suas influências e entregar canções que mesmo não sendo fortes de imediato, possuem um charme discreto.

NOTA: 7/10

Gênero: Pop de Câmara, Indie Rock

Faixas:

1. Cockroach Song - 4:01
2. Can't Complain - 2:28
3. Bad Omens - 3:46
4. Little Things - 4:12
5. Supermoon - 3:32
6. The Floor Is Yours - 1:59
7. Settle Down! - 3:38
8. Paradise Is Green - 3:59
9. Alexandria - 5:02
10. Bugs Forever - 3:40
11. Playing Pretend - 6:31
12. Suckers - 4:06

Onde Ouvir: Bandcamp

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