Ao mencionar o Pearl Jame estou evocando o ponto de partida da minha relação profunda com o mundo do rock. Remonto a um momento marcante de 1992 quando me deparei com o videoclipe de Jeremy. Aquela narrativa visual culminando em um desfecho poderoso foi como uma revelação para mim, despertando um interesse imediato e visceral pelo grupo. Foi um momento crucial onde minha conexão com a música e a expressão artística atingiu um novo patamar.
Nos meses seguintes, fui cativado ainda mais pela presença do Pearl Jam quando a MTV exibiu a icônica performance de Porch no Pinkpop. A energia, paixão e a autenticidade da banda eram palpáveis e eu me vi totalmente absorvido pela experiência musical. Logo depois, o Unplugged MTV me ofereceu uma perspectiva mais íntima e crua da musicalidade do grupo, consolidando ainda mais minha admiração.
Dark Matter chega como o 12º disco de estúdio da banda – o que considero pouco para uma carreira discográfica de 33 anos. Mas de qualquer forma – e o mais importante de tudo -, eles parecem querer continuar soando relevantes ao entregar um disco cheio de dinamismo, frescor e de uma sonoridade que mantém sua música envolvente durante todos os seus cerca de 48 minutos divididos em 11 canções. Apenas um adento, se você é daquelas pessoas que até hoje evocam discos como Ten ou VS para comparar com álbuns mais recentes da banda, não sei o que o que você faz ouvindo-os ainda, agora se você compreende o que é o Pearl Jam hoje em dia, certamente Dark Matter vai atingi-lo da melhor forma possível.
"Scared Of Fear" abre o disco entregando uma vibração clássica da banda, vocais enérgicos, guitarras cativantes e uma seção rítmica sólida, precisa e sincronizada que sustenta o ritmo da faixa muito bem. "React, Respond" mantém o disco dentro de uma sonoridade de alta voltagem, com refrão chiclete e uma linha instrumental maciça. A faixa captura a energia crua da banda, combinando riffs intensos e ritmos pulsantes. "Wreckage" é uma balada que se destaca no álbum por seu estilo emocional e envolvente. Por meio de sua estrutura estilística a música parece prestar homenagem a Tom Petty ao incorporar elementos de sua abordagem distinta à composição e à performance.
"Dark Matter" é uma das peças mais pesadas do álbum. Seção rítmica penetrante, riffs encorpados de guitarra e um solo ao melhor estilo Mick McCready, um cara que nunca foi um “guitar hero”, porém, sempre entendeu bem o que é necessário pra soar marcante dentro da banda. "Won't Tell" é outra balada do álbum que embora não seja tão impactante quanto "Wreckage", ainda oferece uma experiência de qualidade. A faixa se destaca por sua batida constante e envolvente, proporcionando uma base sólida. É enriquecida com o acréscimo de alguns leves toques de sintetizadores.
"Upper Hand" possui uma introdução bastante atmosférica de mais de um minuto e meio feita por sintetizadores e guitarra até entregar mais uma peça em ritmo lento. Os floreios de guitarra solo são belíssimos e exemplificam exatamente o que eu disse na faixa anterior. "Waiting For Stevie" me fez sentir uma grande “vibração grunge” encontrada em discos – da banda ou não – da primeira metade dos aos 90. Talvez a produção mais polida possa atrapalhar um pouco essa percepção, mas basta se concentrar e perceber que o grunge clássico, digamos assim, está ali.
"Running" é outro dos momentos mais pesados do disco. Assim que começou foi impossível não lembrar de Rearviewmirror, clássica faixa do disco VS. Possui a melhor seção rítmica do álbum e alguns dos vocais mais raivosos. As guitarras como sempre soam perfeitas, tanto nos riffs quanto nos solos. "Something Special", após a “violência” da faixa anterior, tudo suaviza de novo por meio de uma peça em que Vedder faz um aceno para as suas filhas. Nota-se uma boa influência na música country moderna.
"Got To Give" é um daqueles velhos exemplos em que o básico pode funcionar muito bem, um rock and roll direto e objetivo que apresenta uma abordagem clássica que é ao mesmo tempo empolgante e envolvente. O acréscimo de algumas linhas de piano encaixou muito bem. "Setting Sun" é a faixa de encerramento. Novamente há uma boa vibração country e entrega um fechar de cortinas extremamente aconchegante para o disco.
Dark Matter apresenta um Pearl Jam confiante e com uma sonoridade totalmente própria e característica. A banda demonstra que embora valorize suas raízes e tenha respeito por sua história, não deixa de buscar novas perspectivas em sua arte. No mais novo capítulo de sua história, a banda entrega uma celebração da sua identidade e que tem a capacidade ressoar positivamente tanto nos fãs de longa data, quanto com novas gerações de ouvintes.
NOTA: 7,2/10
Gênero: Rock Alternativo, Hard Rock
Faixas:
2. React, Respond – 3:30
3. Wreckage – 5:00
4. Dark Matter – 3:31
5. Won't Tell – 3:28
6. Upper Hand – 5:57
7. Waiting for Stevie – 5:41
8. Running – 2:19
9. Something Special – 4:06
10. Got to Give – 4:37
11. Setting Sun – 5:43
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