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sábado, 11 de janeiro de 2025

Asian Glow - 11100011 (2024)

                               

Preciso admitir que de certa forma a Coreia do Sul acabou me deixando um tanto mal-acostumado musicalmente – e não de forma positiva. Sempre que ouço falar sobre música desse país, minha mente associa quase automaticamente ao K-pop, um gênero que apesar da sua imensa popularidade, nunca conseguiu me prender nem mesmo por alguns poucos minutos. No entanto, ao ouvir artistas como Asian Glow, sinto-me aliviado ao perceber que o país também tem dado espaço para jovens com uma visão artística mais introspectiva e profunda, algo que foge das amarras da superficialidade. 

Shin Gyeongwon, mais conhecido pelo nome artístico Asian Glow, tem conquistado cada vez mais atenção na cena musical graças à sua abordagem bem elaborada. Sua música transita entre o pop alternativo, dream pop, indie rock e a música eletrônica, enquanto entrega também alguns toques experimentais. Além disso, ele incorpora de forma sutil e alguns instrumentos muito utilizados na música tradicional coreana, como o gayageum (instrumento semelhante a cítara) e o janggu (instrumento semelhante ao tambor).

Seu interesse pela música veio no início da adolescência quando aprendeu a tocar piano e guitarra, tendo rapidamente se interessado também por produção musical e experimentar softwares de áudio para criar suas primeiras composições. Duas de suas maiores influências são a cantora islandesa Bjork e o Aphex Twin. A explicação pela escolha do seu nome artístico está inerente a sua filosofia de vida, onde Asian é uma referência a Ásia, enquanto Glow simboliza luz de esperança, sugerindo assim, sua vontade de colocar nos holofotes mundiais a cultura asiática.

11100011 é o seu quinto disco e sem dúvida o seu trabalho mais homogêneo até o momento. Cada uma das faixas do álbum possui méritos próprios e contribui de maneira significativa para que como um todo haja um resultado satisfatório. Essa coesão é uma evolução em relação aos seus discos anteriores, que apesar de demonstrarem uma qualidade em suas maiores partes, também apresentavam algumas faixas que soavam menos inspiradas, onde embora não comprometesse totalmente a qualidade do trabalho, afetavam a experiência geral do ouvinte. 

O disco se inicia com "m0numental", uma faixa que embora não corresponda exatamente à grandiosidade sugerida pelo seu título, não deixa de possuir o seu charme. A peça entrega uma sonoridade etérea que se unem a camadas delicadas e texturas sonoras que parecem flutuar no ambiente, criando dessa forma uma atmosfera envolvente. Uma música que inicia o disco muito bem, não buscando necessariamente impressionar o ouvinte pelo impacto imediato, mas sim, conquistar pelo seu refinamento e sutileza.

"Feel All The Time" direciona o disco para um território mais sombrio e que faz o ouvinte mergulhar em uma sonoridade atmosférica que traz com ela um clima de mistério. Ao combinar texturas densas e uma melodia introspectiva, a faixa cria um contraste em relação à faixa de abertura, com isso, ela estabelece um tom mais profundo. Os arranjos evocam uma sensação de inquietude enquanto as nuances sutis na produção reforçam o caráter enigmático da composição.

"The Worst Way to Start an End" começa de forma delicada por meio de umas batidas suaves e teclados serenos que criam um clima de tranquilidade. No entanto, essa serenidade é abruptamente rompida quando a faixa adota uma sonoridade agressiva que é marcada por guitarras intensas e uma bateria visceral. A calmaria retorna momentaneamente, como se quisesse dar a oportunidade de um breve respiro para o ouvinte, mas logo dá lugar novamente a uma pegada mais pesada e que se mantém até o final. Essa alternância entre momentos de quietude e explosão confere à música um dinamismo envolvente e imprevisível.

"Out of Time" é uma faixa que se destaca por sua simplicidade, apresentando uma construção sonora repleta de camadas muito equilibradas, cada elemento contribui de forma sutil para o todo, sem que nenhuma camada se sobressaia mais do que as outras, o que acaba criando uma textura coesa e harmônica, além de permitir que a música flua com naturalidade e envolva o ouvinte sem excessos ou qualquer tipo de artifício. Este é aquele tipo de composição que o seu maior trunfo está justamente na sua clareza e maneira como cada detalhe encontra seu lugar dentro do conjunto.

"11100011" inicia-se com um dedilhado de violão que estabelece o tema principal de toda a faixa, sendo repetido e explorado ao longo de toda a composição. Apesar de sua estrutura simples e da ausência de grandes variações, a música ainda consegue manter um charme especial. A repetição do tema também pode dar ao ouvinte uma sensação de familiaridade reconfortante, enquanto as sutis camadas de arranjo e nuances na execução garantem que a faixa permaneça agradável.

"Camel8strike" apresenta tendências indietrônicas, algo que costuma não ser tão fáceis para mim de assimilar. No entanto é preciso reconhecer que a faixa não compromete a qualidade geral do disco. Pelo contrário, ela se desenvolve de maneira sólida dentro de sua proposta, explorando texturas eletrônicas e ritmos alternativos de uma maneira bastante consistente. Apesar de ser a que considero menos inspirada, sua inclusão no disco adiciona um toque de experimentalismo que complementa bem a experiência geral.

"Untitled *3" é uma daquelas músicas que não cativam de imediato e exiegem um gosto adquirido para ser apreciada de uma maneira mais plena. Sua construção pode parecer menos acessível em uma primeira audição, porém, depois passa a revelar camadas que se desvendam gradualmente com o tempo. É uma faixa que se mostra mais envolvente e significativa à medida que o ouvinte se familiariza com sua estrutura e atmosfera. Essa característica a torna um ponto interessante no álbum, pois soa como uma espécie de convite a uma exploração mais cuidadosa.

"Jitnunkebi (Winter's Song)”, com pouco mais de sete minutos é a faixa mais longa do disco e a minha favorita. Sua extensão permite uma exploração rica de diferentes sonoridades e que se entrelaçam de maneira orgânica ao longo de toda a sua extensão. Essa grande variação sonora a torna não apenas a mais completa do álbum, mas também a sua experiência mais memorável. Em cada transição, seja ela entre momentos mais suaves ou trechos de intensidade crescente, tudo é muito bem trabalhado, o que resulta em uma peça que sintetiza a essência do disco e destaca o talento de Asian Glow para criar peças emocionantes. 

"Dorothee Thines" encerra o disco com grande estilo, sendo também um dos seus destaques. A faixa traz uma energia contagiante que é construída por meio de uma fusão vibrante de elementos eletrônicos e percussivos que mantêm o ouvinte seduzido até o último segundo. Essa combinação não só reforça a diversidade sonora do álbum, mas também garante um final edificante. É uma conclusão que deixa uma impressão duradoura, afinal, ela encapsula como nunca o espírito criativo de Asian. 

No geral, 11100011 é um disco repleto de pontos fortes, onde entre alguns deles se destacam os sintetizadores que estão cuidadosamente distribuídos e adicionam mais vivacidade às faixas, enquanto as baterias são executadas com precisão e energia e os belos vocais conferem um toque emocional. No entanto, devo apontar um ponto fraco que não pode passar despercebido que é a sua produção, pois apesar de não comprometer o disco em seu geral, é um detalhe técnico que se tivesse sido melhor cuidado, melhoraria ainda mais a experiência em ouvi-lo. 

NOTA: 7.8/10

Gênero: Dream Pop, Rock Alternativo, indie Rock

Faixas:

1. m0numental - 4:33
2. Feel All the Time - 4:24
3. The Worst Way to Start an End - 5:05
4. Out of Time - 3:34
5. 1110011 - 3:55
6. Camel8strike - 3:58
7. Untitled *3 - 3:20
8. Jitnunkebi (Winter's Song) - 7:09
9. Dorothee Thines - 5:11

Onde Ouvir: Plataformas de Streaming

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