Originária de Akron, Ohio, a banda Perfect rapidamente se consolidou como um nome diferenciado no cenário do rock progressivo. Com uma sonoridade arrojada, o grupo desafia continuamente as expectativas – sem qualquer preocupação se vai falhar ou não em suas ideias -, explorando territórios musicais que surpreendem até os ouvintes mais experientes e acostumados com ideias desafiadoras. Fundada em 2017 sob o nome de Perfect Girl, a banda demonstrou desde o início um forte talento para experimentações sonoras ao misturar estilos e influências de maneira bem particular.
A formação original, composta por Tony Batey (vocais, baixo e saxofone), Sam Holik (guitarra) e Jake Ross (bateria), trouxe com ela um combinando de técnica refinada com uma abordagem criativa. No entanto, à medida que amadureciam artisticamente, o grupo passou por transformações significativas, tanto em sua música quanto em sua identidade. Essa evolução culminou na decisão de abandonar o "Girl" do nome original, optando por uma expressão mais direta. Esse ajuste refletiu a busca por uma identidade que não apenas representasse sua maturidade, mas também destacasse sua ambição de ir além dos rótulos tradicionais e criar algo verdadeiramente impactante.
Contudo, a transformação mais significativa na trajetória da banda ocorreu em 2019, um ano marcado como um ponto de inflexão em sua evolução sonora. Nesse ano, Sam Colgrove assumiu o baixo, substituindo Tony Batey e trazendo consigo uma nova perspectiva musical que impulsionaria o grupo em direções ainda mais surpreendentes. Com Colgrove integrando a formação, a banda mergulhou ainda mais fundo em uma abordagem experimental e intricada, incorporando elementos de math rock, avant-prog e jazz fusion.
Essa mudança não tinha a ver apenas com trocar um músico por outro, era também uma renovação criativa, com composições que se tornariam mais complexas e com estruturas rítmicas imprevisíveis, harmonias sofisticadas e uma fusão de estilos que frequentemente rompem as barreiras entre os gêneros. Nesse novo capítulo, a banda consolidou um DNA sonoro particular, onde recusava-se ser limitada por rótulos ou categorizada dentro de apenas um gênero.
Após um período de dedicação e refinamento criativo, a banda lançou em agosto de 2022 o seu álbum de estreia. O disco não representava apenas o resultado de anos de esforço e experimentação, mas também o início de um novo capítulo na sua história. O álbum refletiu uma evolução significativa ao trazer uma profundidade e maturidade que capturaram a essência da banda enquanto abriam novas possibilidades sonoras. Essa transformação foi impulsionada pela entrada de novos integrantes, sendo Ian Palmerton nos vocais, Michael Weber nos teclados e Eric Perez no saxofone. Esses novos elementos adicionaram uma riqueza instrumental e uma sofisticação harmônica que antes eram apenas vislumbradas nas composições do grupo. A inclusão do trio trouxe novas camadas de textura e complexidade, além de elevar a música a um estágio mais vibrante.
O álbum conquistou um público que embora ainda fosse pequeno, mostrou-se profundamente conectado à criatividade do grupo. É fato que essa abordagem sonora não convencional em alguns casos poderia de certa forma assustar aqueles menos familiarizados com tanta experimentação, porém, ainda assim, a banda permaneceu fiel à sua visão artística, mantendo-se abraçado a uma sonoridade desafiadora.
O lançamento de Monkey Jockey and the Safari Tick Sugar em 2024 foi uma reafirmação vibrante da identidade destemida e criativa que define a banda. Desde os primeiros instantes de audição, fica evidente que o grupo não está disposto a diluir sua sonoridade ou comprometer sua visão artística para alcançar um público mais amplo do que o conquistado com seu álbum de estreia. Pelo contrário, o título intrigante e excêntrico do disco já funciona como uma introdução ao universo peculiar que a banda convida os ouvintes a explorar.
Aqui eles aprofundaram ainda mais sua abordagem ousada, tecendo uma tapeçaria sônica que mergulha em territórios musicais inesperados. O álbum é uma verdadeira aventura sonora, com composições que oscilam entre momentos de intensidade visceral e passagens de sutileza quase etérea. Cada faixa por meio de suas reviravoltas e surpresas mantêm o ouvinte intrigado a cada segundo, mesmo que seja para no fim dizer que não entendeu muito bem a proposta, afinal, em vez de buscar fórmulas seguras, o grupo abraça com fervor toda a sua essência experimental. Monkey Jockey and the Safari Tick Sugar é um convite para aqueles que desejam se aventurar além dos limites do familiar e descobrir um som que é ao mesmo tempo desafiador e recompensador. Com isso, a banda solidificou sua posição como uma força criativa única.
Com suas seis faixas distribuídas ao longo de 44 minutos, Monkey Jockey and the Safari Tick Sugar é muito mais do que um simples conjunto de músicas, ele é uma jornada sônica projetada para ser vivida do começo ao fim. O álbum se destaca por sua abordagem avant-garde que esfarela qualquer vestígio da música tradicional, deixando claro para o ouvinte abandonar qualquer tipo de expectativa e se deixar levar pelo imprevisível. Cada momento do disco é um tapete vermelho estendido esperando o desfile de experimentações ousadas e surpreendentes.
Podendo ser descrito facilmente como uma espécie de “avalanche musical,” o trabalho encontra sua força em sua intensidade inabalável e em sua capacidade de manter o ouvinte em constante estado de alerta. Ritmos intrincados, harmonias complexas e mudanças abruptas de dinâmica se combinam para criar uma experiência sonora que não apenas cativa, mas também exige atenção total. É um convite irresistível para mergulhar profundamente em um universo sonoro que celebra a criatividade sem limites.
A natureza desafiadora e até um pouco assustadora do álbum sugere que ele não é facilmente acessível para uma escuta casual. Longe de ser um pano de fundo para atividades cotidianas, o disco exige atenção plena e disposição para se deixar levar por uma experiência auditiva que transcende as expectativas comuns sobre o que esperar de estruturas e harmonias. O álbum é claramente voltado para aqueles momentos em que o ouvinte deseja explorar as fronteiras do que é comumente aceito como música, desafiando-se a encontrar beleza e significado em composições que não tem a menor intenção de soarem simplórias.
Para muitos essa complexidade pode parecer um obstáculo, mas para aqueles dispostos a enfrentar o desafio o álbum oferece ótimas recompensas. Esses ouvintes podem descobrir novas camadas de apreciação musical e reconhecer a habilidade e a intenção por trás de composições que parecem querer anarquizar normas e exploram o potencial expressivo do som. Para esses aventureiros o disco não é apenas uma coleção de faixas, mas um convite a reflexões mais profundas sobre a natureza da música e sua capacidade de evocar vários tipos de emoções.
Em muitos aspectos, bandas como a Perfect servem como lembretes de que a música em sua essência é um campo ilimitado de possibilidades criativas, onde a coragem de explorar o desconhecido e a paixão por compartilhar essa exploração com o mundo são as chaves para a verdadeira inovação, ainda que essa ousadia nem sempre seja recompensada comercialmente.
Por fim, Monkey Jockey and the Safari Tick Sugar não é apenas uma continuação da trajetória musical da banda, mas um salto audacioso em direção ao desconhecido. Demonstra não apenas a habilidade técnica de cada integrante, mas também a imaginação ilimitada de alguns amigos que juntos estão prontos para produzir música para pessoas que assim como eles estão dispostas a explorar o extraordinário e inesperado.
NOTA: 9,2/10
Gênero: Rock Progressivo, Rock Experimental, Avan-Prog, Jazz Rock
Faixas:
2. Acoustic Encryption - 5:50
3. Ungly Cane Day - 3:58
4. Tick Sugar - 5:15
5. A Wreath of Virtuous Infinite (The) - 10:01
6. Miserable Circuit - 2:36
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