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sábado, 4 de janeiro de 2025

Opeth - The Last Will and Testament (2024)

 

Sou um grande admirador do Opeth, mas preciso admitir que seu novo álbum, The Last Will and Testament, me pegou completamente desprevenido. Sem eu saber de qualquer anúncio prévio, acordei e me deparei com uma enxurrada de críticas nos principais sites de rock progressivo. Para minha surpresa, quase todas eram unânimes em elogiar a obra, destacando sua qualidade e criatividade. É impressionante como o Opeth consegue se reinventar com tamanha maestria, mantendo a essência que o torna tão especial para os fãs.

Este novo trabalho é um disco conceitual, algo que a banda não explorava desde Still Life em 1999. Segundo Mikael Åkerfeldt, houve uma influência na série Succession para criar a narrativa que gira em torno de uma reunião familiar convocada para a leitura do testamento de um patriarca, revelando os dramas humanos que emergem nesse cenário. Conflitos, segredos e tensões ganham destaque enquanto os personagens lidam com questões como ganância, traição, amor, perda e os efeitos das escolhas passadas. Mais do que dividir bens materiais, a leitura do testamento traz à tona verdades sombrias, alterando para sempre as relações entre os presentes. Diferente de histórias com temas sobrenaturais ou fantasiosos, o álbum aposta em um enfoque mais realista.

Musicalmente, The Last Will and Testament é um equilíbrio perfeito entre as fases mais pesadas e progressivas do Opeth. O álbum conta ainda com colaborações notáveis, como a participação de Ian Anderson, cuja narração e solos de flauta enriquecem a experiência. Cada faixa reflete o estado emocional ou o avanço da trama, tornando o álbum quase uma experiência cinematográfica. O epílogo, com um toque agridoce, sugere que, apesar das revelações, nem todos os personagens encontram redenção ou paz, deixando no ar uma sensação de inquietação que ressoa com a profundidade da história.

"§1", a introdução é marcada por um clima sombrio, com o som de passos ecoando e o ranger de uma porta que se abre, prenunciando o que está por vir. A música emerge de uma atmosfera sombria e misteriosa, crescendo rapidamente para uma explosão frenética de riffs pesados e uma densidade sonora impressionante. Mikael Åkerfeldt entrega vocais cheios de fúria e intensidade, mas também há momentos de contraste, onde linhas melódicas se entrelaçam, criando uma rica tapeçaria emocional. Um excelente começo de disco. 

"§2" inicia de forma delicada, com suaves notas de órgão que evocam uma atmosfera introspectiva e quase etérea. No entanto, essa calmaria logo dá lugar a uma sonoridade poderosa e impactante, onde a banda, mais uma vez, demonstra sua habilidade em transitar entre passagens melódicas e explosões de agressividade. Enriquecendo ainda mais a composição, narrativas faladas por Ian Anderson e Joey Tempest (Europe) adicionam camadas de profundidade, elevando a experiência sonora.

"§3", desde os primeiros acordes, a faixa apresenta uma abordagem distinta em relação às anteriores, evidenciando uma estrutura marcada pela alternância de tempos e assinaturas rítmicas intrigantes. Em contraste com a intensidade que permeia as anteriores, esta se destaca por uma fluidez mais contida e uma construção mais suave. À medida que a composição avança, parece se encaminhar para um desfecho climático, mas surpreende ao escalar em intensidade apenas para encerrar de maneira abrupta.

"§4", esta faixa abriga um dos meus riffs de guitarra favoritos de todo o disco e que ganha ainda mais força ao ser sustentado por uma seção rítmica sólida e teclados muito bem construídos. O interlúdio é um momento de brilhantismo a parte, começando de forma suave, com uma atmosfera sombria e conduzido pela flauta mágica de Ian Anderson. Aos poucos, essa passagem cresce em intensidade, atingindo um ápice de explosividade e agressividade antes de retornar de maneira magistral ao riff de guitarra inicial, encerrando assim, o ciclo com perfeição. 

"§5", preserva a intensa carga emocional de sua antecessora, mas segue por caminhos próprios, onde a banda demonstra uma clara ousadia técnica. Aqui, a banda brinca com assinaturas rítmicas mais complexas e mudanças abruptas de tonalidade que pode querer surpreender o ouvinte a cada instante. O destaque vai para os solos intrincados e as passagens instrumentais elaboradas, que parecem intencionalmente projetadas para evocar uma sensação de caos controlado e imprevisibilidade, mantendo o ouvinte sempre à beira da expectativa.

"§6", inicialmente envolve o ouvinte com suavidade. No entanto, essa calmaria inicial logo dá lugar a uma explosão de intensidade, uma transição que impressiona pela sua força. A energia do som se combina com uma melodia que pulsa, quase como se estivesse viva. Conforme a música avança, os vocais se erguem com uma intensidade avassaladora, rasgando a paisagem sonora como o impacto devastador de uma colisão de dois trens. Destaque também paras os dois solos viscerais da música, um de sintetizador e o outro de guitarra, mostrando que o talento de Åkerfeldt não está apenas em seu canto. 

"§7" novamente exemplifica com elegância a capacidade da banda de alternar entre atmosferas etéreas, quase oníricas, e explosões intensas de agressividade, criando uma experiência imprevisível. Åkerfeldt conduz essa jornada com maestria, sua voz oscilando entre guturais potentes, que evocam força e brutalidade, e passagens limpas, carregadas de uma emoção tocante que revela uma dualidade fascinante. O ápice da faixa chega com o tema final, marcado por uma linha sinfônica grandiosa, que não apenas amplifica o drama, mas também encerra a peça com um grande peso emocional.

"A Story Never Told" encerra o disco de forma marcante, com uma abordagem introspectiva que evoca as atmosferas de trabalhos como Pale Communion e Sorceress. Os arranjos cristalinos e bem construídos criam uma sensação de transparência e leveza, enquanto os vocais limpos e emotivos de Åkerfeldt adicionam um toque de vulnerabilidade à música. A faixa se desenrola como uma contemplação final, envolvendo o ouvinte em um clima de reflexão e melancolia sutil. É um encerramento emocionante, que não apenas completa o álbum, mas também deixa uma impressão duradoura, permanecendo no ouvinte muito além de seus últimos acordes.

The Last Will and Testament é um exemplo sublime da fusão entre o peso visceral do metal e a complexidade envolvente do progressivo. As influências clássicas da banda se entrelaçam com excelentes experimentações, dando vida a um panorama sonoro que se desdobra de forma profundamente teatral e como a história pede. O álbum captura com perfeição tanto a brutalidade quanto a beleza e a sofisticação da narrativa que o conduz, equilibrando força crua e elegância melódica em um verdadeiro deleite auditivo. E o ouvinte? Ele é conduzido como parte integrante dessa experiência, imerso em cada detalhe emocional e técnico que permeia suas oito faixas, podendo absorver camadas de som e significado a cada nova audição.

NOTA: 10/10

Gênero: Metal Progressivo, Death Metal

Faixas:

1. §1 (6:11)
2. §2 (5:40)
3. §3 (5:11)
4. §4 (7:05)
5. §5 (7:35)
6. §6 (6:16)
7. §7 (6:28)
8. A Story Never Told (7:10)

Onde Ouvir: Plataformas de Streaming e Youtube

Um comentário:

  1. Tiago Meneses, parabéns pelo blog, seu conteúdo é alto nível. Já está na minha lista de parceiros do Atituderocknroll.

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