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domingo, 26 de janeiro de 2025

Elizabeth A. Carver - The Cart Before The Horse (2025)

Elizabeth A. Carver é uma cantora e compositora americana que ainda está dando os seus primeiros passos na música, tendo lançado seu disco de estreia no dia 2 de janeiro de 2025, intitulado, The Cart Before The Horse, um disco de avant-folk, ou seja, um trabalho que mistura as raízes do folk tradicional com uma abordagem mais experimental e muitas vezes até difícil de ser assimilado por ouvidos que não são familiarizados com o gênero.

Mas vale destacar que a mente de Elizabeth não está sozinha nesse projeto. O álbum também conta com a colaboração essencial de Alexander Gregory Kent, que é quem assina os vocais e contribui significativamente para a profundidade emocional e artística do álbum. Os dois trabalham de uma maneira muito harmoniosa, enquanto demostram uma sinergia criativa marcada por uma forte honestidade artística.

"Big Silver Round Thing" é uma peça que abraça a ideia de criar uma experiência sonora que se desvia do convencional e exige uma imersão mais profunda do ouvinte. Por meio de um andamento lento e quase hipnótico a música transforma cada som em uma camada de textura que se sobrepõe à anterior, mas sem pressa e sem pressões externas. A instrumentação suave que se desenrola de maneira quase etérea transporta quem escuta para um estado de introspecção, enquanto o convida a se perder em seus próprios pensamentos. Liricamente, entrega a ideia de alguém que está preso entre memórias dolorosas e um desejo de se reconstruir. A dualidade entre violência e ternura é o conceito central, representando uma luta entre destruição e redenção.

"Wishing", diferentemente da anterior, traz uma energia mais ritmada que conecta o ouvinte a um movimento contínuo e fluido. O equilíbrio entre os elementos do folk tradicional e as nuances experimentais é o que a torna uma faixa particularmente encantadora. Ela transmite a sensação de uma viagem sonora onde o passado e o presente se encontram e se complementam, criando uma experiência auditiva profunda e rica, além de emocionalmente ressonante. É uma peça que não se limita a seguir uma fórmula. A letra em si, também segue uma ambiguidade emocional, mas agora, na perspectiva de alguém que parece buscar, mas ao mesmo tempo rejeitar o desejo e a esperança, como se houvesse um desgaste profundo na luta constante entre o ideal e o real.

"Portraits of Sections of Whale Body" é uma peça que leva o ouvinte a um território puramente experimental, se distanciando completamente de convenções narrativas de uma forma de música mais tradicional. É aquele tipo de som que exige do ouvinte uma grande disposição para mergulhar em territórios desconhecidos, mas que em troca também oferece uma experiência rica e evocativa. Imaginem que é como observar um quadro impressionista, onde a princípio nada parece fazer sentido, porém, após entendê-lo, uma imagem clara pode emergir. Sua letra não é cantada, mas uma espécie de súplica dramática que sugere uma reflexão sobre a natureza da existência, medos internos e a busca por algo maior.

"I Commit You to God" é daquelas músicas em que sua simplicidade musical encontra uma enorme força emocional. Com o foco central principalmente no piano, cada nota parece ter sido escolhida com um cuidado enorme por quem não quer impressionar com complexidade, mas simplesmente transmitir uma sinceridade crua e uma melancolia que ressoa profundamente. A melodia é lenta e contemplativa, onde as pausas entre as frases musicais são tão significativas quanto as notas tocadas, fazendo assim, que o silêncio também se torne uma parte essencial da inquietude minimalista de uma narrativa que é ao mesmo tempo um lamento e uma celebração capaz de mostrar como a beleza pode ser encontrada nos lugares mais inesperados. 

“Horse in Retrospect” é a faixa que encerra o álbum, trazendo uma mistura de elementos folk e sons ambientes. O violão é executado de uma maneira sofisticada e cheia de camadas. Enquanto isso, a sonoridade ambiente ronda por toda a faixa e adiciona uma dimensão etérea que amplia a paisagem sonora. O equilíbrio entre o folk tradicional e os elementos experimentais são notáveis. Apesar de inicialmente parecer que tudo vai soar de maneira introspectiva, quase até mesmo íntima, ao longo de sua progressão ela se abre e torna-se expansiva e até mesmo transcendental ao entregar para o ouvinte uma espécie de sentimento de despedida, enquanto liricamente pode ser vista até como uma meditação, tanto sobre a dor quanto sobre a beleza de se deixar ir e seguir o fluxo inevitável da existência.

Não vou enganar ninguém: apesar de eu ter gostado de The Cart Before The Horse, não se trata de um disco que se indica para qualquer pessoa. Seu experimentalismo, embora fascinante, nem sempre pode soar musical ou acessível para todos os gostos. Este é um álbum que exige um ouvinte disposto a se entregar à experiência sem expectativas rígidas e aberto a interpretações subjetivas. 

Também não acho que seja um disco para ouvir a qualquer dia ou em qualquer hora. Ele parece reservado para ocasiões específicas — talvez um fim de tarde introspectivo, uma noite silenciosa ou um momento em que você esteja preparado para mergulhar em sua carga emocional densa. Suas paisagens sonoras, muitas vezes soturnas e melancólicas, podem ser um peso emocional em dias mais vulneráveis, dias onde tudo que precisamos é de algo leve e reconfortante.

Resumindo, The Cart Before The Horse é um disco que em seus melhores momentos tem a capacidade de atingir uma enorme profundidade emocional e cria um universo sonoro único, desde que você esteja no estado de espírito certo para explorá-lo. É um álbum que recompensa o ouvinte disposto a encarar sua natureza desafiadora, mas queao mesmo tempo pode exigir mais do que alguns estarão dispostos a dar.

NOTA: 8.1/10

Gênero: Avant Folk

Faixas: 

1. Big Silver Round Thing - 10:22
2. Wishing - 4:12
3. Portraits of Sections of Whale Body - 7:54
4. I Commit You to God - 6:24
5. Horse In Retrospect - 7:07

Onde Ouvir:  Plataformas de Streaming, Bandcamp e Youtube

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