A Lunar é uma banda de metal progressivo com incursões de death metal, originária de Sacramento na Califórnia. Fundada em 2014 pelo baterista Alex Bosson, o grupo tem como principal característica uma sonoridade que passeia entre linhas atmosféricas e trechos de agressividade. Apesar de não ser um grupo de musicalidade necessariamente original ou que chame atenção por algum toque diferenciado, no geral são músicos muito seguros do que querem entregar por meio de sua música, ou seja, composições de melodias intrincadas e riffs densos, além de uma variação vocal dinâmica entre ora mais limpa e ora mais gutural. Entre suas principais influências figuram nomes como Opeth, Caligula’s Horse, Haken, Tool e Porcupine Tree.
Tempora Mutantur é um álbum que se destaca por uma musica diversificada que vai além do metal progressivo ao incorporar influências de gêneros como metal melódico, rock progressivo clássico, death metal e música sinfônica. Sua musicalidade é guiada por uma estrutura dinâmica onde cada faixa é construída sobre boas texturas instrumentais, mudanças rítmicas e atmosferas que contrastam entre si.
Tempora Mutantur é o 4º disco de estúdio da banda e também um trabalho conceitual. O próprio título que em latim significa "Os tempos mudam" já sugere a temática central do disco que é a inevitabilidade da mudança ao longo da vida. Cada faixa do álbum representa diferentes estágios de transformação, tanto pessoais quanto naturais, utilizando as estações do ano como metáfora para mudanças emocionais e existenciais. O ciclo das estações - verão, outono, inverno e primavera - reflete momentos de conflito, introspecção, perda e renovação.
"A Summer To Forget" é a faixa que inicia o disco e que estabelece o tom para toda a jornada do álbum. Se desenvolve de maneira envolvente, iniciando de forma melódica que gradualmente se transforma em passagens mais densas e pesadas a peça reflete a tensão entre lembranças agradáveis e experiências dolorosas. Essa progressão evidencia uma banda equilibrando muito bem momentos introspectivos e atmosféricos com explosões de intensidade visceral. Vale destacar também a fusão entre vocais limpos e guturais que conseguem intensificar a sensação de conflito interno.
"Fall Back Into Old Habits" é a faixa mais longa do disco e proporciona à banda explorar suas capacidades progressivas de uma maneira ampla. Composta por seções intricadas, a peça exemplifica a habilidade do grupo de transitar entre diferentes climas e emoções ao longo de sua estrutura expansiva. A música conta com a participação de Wayne Ingram na guitarra solo, algo que adiciona mais profundidade aos momentos instrumentais. A música se desenrola de forma dinâmica, alternando passagens introspectivas e sutis com trechos intensos e mais explosivos.
"Seasonal Interlude" é uma música dividida em duas partes distintas, com a primeira metade mais serena e a segunda possuindo uma instrumentação mais pesada. No início a música se apoia em teclados etéreos e guitarras limpas que cria uma paisagem sonora delicada, enquanto os vocais suaves e melódicos evocam um tom contemplativo. Então que essa calmaria é interrompida conforme a faixa avança para sua segunda metade e traz com ela uma energia que se intensifica com riffs pesados, vocais guturais e uma instrumentação densa. O uso de saxofone nessa parte ajuda na construção de uma camada de som inesperado e experimental.
"Weakening Winter Touch” inicia com uma atmosfera melancólica que é sustentada por texturas de guitarra e teclados, criando desta forma um clima introspectivo. Conforme a música se desenvolve, a instrumentação se torna progressivamente mais intensa, incorporando riffs pesados, solo imponente de teclado, ritmos complexos e algumas mudanças de dinâmicas. A faixa captura muito bem a sensação de uma transição inevitável, onde o frio intenso começa a ceder espaço para a promessa de uma nova estação.
"Spring In My Step", lançada como single, representa um dos momentos mais vibrantes e otimistas de Tempora Mutantur. Inclusive, foi descrita pelo baterista Alex Bosson como uma das músicas mais animadas do disco, sendo uma faixa que celebra a sensação de renovação – na primavera - que surge após períodos turbulentos – no inverno. Melodias mais otimistas permeiam toda a faixa – até nos momentos de vocal gutural -, contrastando com o tom mais melancólico de músicas anteriores. No entanto, mesmo com essa abordagem mais acessível a banda mantém o equilíbrio entre técnica e emoção.
"Tempora Mutantur: Part I – Passage of Time" é uma peça extremamente emocional, onde o piano melancólico e os vocais emotivos são os principais ingrediente ao criarem uma atmosfera que remete à reflexão sobre a passagem do tempo. A participação especial de Sam Vallen (Caligula’s Horse) e Brory Gage na guitarra e na gaia, respectivamente, surge em momentos pontuais, adicionando texturas que elevam a música a uma sonoridade quase celestial.
"Tempora Mutantur: Part II – Broken Pendulum" dá continuidade à suíte aprofundando a exploração do conceito de desequilíbrio temporal. A faixa começa a partir da ideia de instabilidade por meio de uma música que alterna entre ritmos irregulares e melodias dissonantes. Trata-se de uma jornada que oscila entre momentos de descontrole e de tentativas de equilíbrio, onde a alternância entre os diferentes estilos de vocais, ritmos e harmonias cria uma textura complexa e amplia a narrativa do disco sobre a transição e os desafios, além das transformações constantes que moldam nossa existência.
"Tempora Mutantur: Part III – Watch The Weather Change" encerra o disco com uma reflexão sobre a inevitabilidade da mudança e a aceitação das transformações constantes. Também traz à tona uma sensação de fechamento como se o ciclo da mudança nunca terminasse, mas se renovasse a cada nova fase. O riff de guitarra é cativante, enquanto a fusão dos vocais limpos e guturais soam como um dos pontos mais marcantes da faixa, representando o equilíbrio entre os extremos. A vida pode mudar a qualquer momento. No geral, a faixa traz uma mistura de peso e um refrão muito melódico, proporcionando um contraste interessante entre o otimismo inicial e a realidade das frustrações.
Apesar de não ser um disco de musicalidade única e que entrega elementos inovadores – algo normal dentro do metal progressivo, já que novidade sonora no estilo está cada vez mais difícil -, em "Tempora Mutantur”, a banda demonstrou habilidade em combinar narrativa lírica com algumas belas paisagens musicais, criando desta forma, uma experiência auditiva emocional gratificante. No geral, o álbum é uma exploração das mudanças sazonais e pessoais apresentadas através da lente do metal progressivo.
NOTA: 8,2/10
Gênero: Metal Progressivo, Death Metal
Faixas:
2. Fall Back into Old Habits - 11:16
3. Seasonal Interlude - 4:47
4. Weakening Winter Touch (8:46
5. Spring In My Step - 7:26
6. Tempora Mutantur: Part I - Passage of Time - 3:12
7. Tempora Mutantur: Part II - Broken Pendulum - 3:47
8. Tempora Mutantur: Part III - Watch the Weather Change - 4:51
Onde Ouvir: Plataformas de Streaming, Bandcamp ou Youtube
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