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sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Squid - Cowards (2025)

                                 

Squid é uma banda que vem se destacando musical por sua abordagem marcada por uma fusão envolvente de diversos gêneros, incluindo post-punk, art rock e krautrock, além de influências significativas de jazz e música eletrônica. O resultado dessa miscelânea sônica é um som dinâmico que muitas vezes soa imprevisível e desafiador, ao mesmo tempo que cativa por meio d sua procura de algo que transpire singularidade. 

Cowards, 3º disco da banda, marca de certa forma uma evolução na sonoridade e nas temáticas abordadas anteriormente, fazendo que seu nome seja consolidado na cena musical contemporânea. Também pode descrito como um "álbum sobre o mal" que explora aspectos sombrios da natureza humana, tais como covardia, ganância, sede de sangue e apatia. O vocalista e baterista Ollie Judge compara o álbum a um "livro de contos de fadas sombrios", onde cada faixa apresenta narrativas que frequentemente transitam entre diferentes estilos musicais, onde enquanto uma pode abordar a fascinação voyeurística por crimes reais, outra discute as manipulações da fama, criando uma atmosfera inquietante e envolvente.

Musicalmente falando o disco entrega uma fusão entre post-rock e art rock, criando dessa forma, uma sonoridade rica e expansiva. Além disso, a obra também incorpora elementos da música eletrônica e do folk, além da psicodelia, resultando em uma experiência sonora diversa. Essa abordagem marca um afastamento do som inicial da banda e que era mais diretamente associado ao post-punk, deixando em evidencia não apenas uma evolução natural em sua identidade artística, mas também uma maturidade criativa e uma disposição genuína para explorar novas direções. 

“Crispy Skin” é a peça que dá início ao disco e que estabelece o tom do álbum. Contém uma boa mistura de post-punk, art rock e experimentalismo eletrônico. De certa forma é uma música que evoca sensações de paranoia e desconforto por meio de atmosferas sombrias enquanto sua letra parece ser uma crítica a normalização da violência. "Building 650" possui sintetizadores ásperos e batidas eletrônicas que constroem em uma atmosfera fria e mecânica. Essa abordagem mais voltada para a música eletrônica, quando aliada a elementos do industrial confere à faixa uma característica em que é possível perceber acenos ao Radiohead em suas incursões mais experimentais.

“Blood on the Boulders” é uma das faixas mais dramáticas do álbum. Possui uma bela mistura de art rock, jazz experimental e elementos progressivos. Desde o início a música constrói um clima de tensão de como se estivesse à beira de uma explosão sonora. Essa atmosfera carregada se desenvolve mantendo o ouvinte em suspense até que em sua parte central finalmente atinge seu ápice, mergulhando em um momento de ebulição, para depois regressar novamente ao tema sereno e sombrio do início. 

"Fieldworks I" se distancia da abordagem das faixas anteriores ao abraçar uma direção mais atmosférica e experimental. A faixa cria uma sonoridade imersiva em texturas sonoras que evocam uma sensação de vastidão e introspecção, entregando uma experiência sonora mais sutil e contemplativa, como se o seu foco estivesse na exploração do espaço sonoro. “Fireworks II” surge como uma continuação mais dinâmica e rítmica da sua primeira parte. Enquanto a primeira faixa se concentra em atmosferas sutis e experimentais, esta segunda parte acrescenta uma cadência mais forte, com batidas que direcionam a composição para uma linha mais enérgica em determinado ponto. 

“Cro-Magnon Man” oferece uma sonoridade imersa em uma psicodelia contagiante graças à fusão de rock experimental, post-rock e até algumas sutis referências ao krautrock. A faixa flui por meio de progressões que evocam um senso de exploração sonora no mesmo tempo que o clima psicodélico permeia toda a composição. "Cowards", imagine a imagem de uma pessoa vagando por ruas chuvosas se afogando nos próprios pensamentos enquanto uma sensação de desilusão se apodera de sua mente, além disso, ela ainda sofre a frustração de estar sempre buscando algo, mas nunca encontrando. Quando essa sensação de frustração se encontra com uma sonoridade abrasiva e confrontadora, o resultado é “Cowards”, uma peça que reflete de forma crua e direta esse estado de espírito.

“Showtime” é o momento mais teatral do álbum, onde desde o início, flerta com uma vibe quase dançante que é impulsionada por batidas funkeadas que adicionam um bom groove. No entanto, à medida que avança, ela mergulha em um trecho atmosférico e introspectivo, criando uma pausa que a separa de sua segunda metade e que dará lugar a uma linha mais enérgica, de caráter pulsante e de maior carga dramática.

“Well Met (Fingers Through the Fence)”, com seus mais de oito minutos de duração se estabelece como a peça mais longa do álbum. Funcionando como um desfecho grandioso para a obra, a faixa carrega um caráter épico, mas ao mesmo tempo profundamente melancólico, atmosférico e contemplativo. Seu tom introspectivo e reflexivo introduz uma sonoridade inédita até então no álbum. Ao longo de sua construção gradual, a música faz uso de metais em momentos estratégicos, conseguindo dessa forma adicionar camadas de sofisticação e uma textura elegante. À medida que avança a sua intensidade cresce e evolui de uma forma que a vai tornando cada vez mais sinfônica até chegar em um clímax que ressoa como uma despedida dramática, comovente e expansiva.

Enfim, Cowards demonstra não apenas uma evolução da banda, mas uma clara disposição em explorar novos territórios sonoros. Se antes eram frequentemente associados ao post-punk, aqui decidem ir muito além ao incorporar elementos jazzísticos, da música eletrônica, linhas experimentais e até alguns flertes com a música clássica por meio de passagens orquestrais, conferindo ao disco uma identidade sônica cheia de nuances. 

Além disso, é de se destacar a produção do álbum, onde cada elemento parece ter sido cuidadosamente posicionado para contribuir à experiência sensorial proposta pelo grupo. Desde sintetizadores abrasivos até a inclusão pontual de metais e arranjos orquestrados, cada camada sonora adiciona profundidade e complexidade ao trabalho. O resultado é uma obra imprevisível na qual a banda ratifica sua capacidade de reinventar sua própria identidade ao desafiar rótulos. Cowards não é apenas um passo adiante para a banda, mas sim, um mergulho sem medo em um universo de possibilidades. 

NOTA: 8/10

Gênero: Post-Rock, Art Rock, Rock Exprimental

Faixas:

1. Crispy Skin - 6:19
2. Building 650 - 3:51
3. Blood on the Boulders - 5:46
4. Fieldworks I - 2:23
5. Fieldworks II - 3:19
6. Cro-Magnon Man - 4:07
7. Cowards - 5:51
8. Showtime! - 5:08
9. Well Met (Fingers Through the Fence) - 8:15

Onde Ouvir: Plataformas de Streaming, Bandcamp e Youtube

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