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terça-feira, 31 de dezembro de 2024
Magnum - Here Comes The Rain (2024)
Ovrfwrd - There Are No Ordinary Moments (2024)
Quando se trata de álbuns instrumentais, sei que muitos ouvintes tendem a não se sentir atraídos, pelo menos é o que percebo ao tentar recomendar esse tipo de trabalho. Confesso que às vezes consigo entender essa resistência, pois um álbum composto exclusivamente por faixas instrumentais pode facilmente soar repetitivo e enfadonho — especialmente para quem não está habituado ao gênero. Nesse caso, o disco pode parecer desprovido de coesão, como se fosse apenas uma coleção de músicas superficiais, sem direção clara, dando a impressão de que os músicos estão vagando sem saber de onde vieram ou para onde vão. No entanto, com There Are No Ordinary Moments, esse não é o caso. Apesar de sua natureza instrumental, oferece uma audição envolvente, mesmo para aqueles menos familiarizados com a música progressiva.
Este é o quinto álbum da Ovrfwrd, que permanece sólida em sua formação, trazendo novamente os mesmos integrantes dos quatro trabalhos anteriores: Mark Ilaug (guitarra), Chris Malmgren (teclado), Kyle Lund (baixo) e Richard Davenport (bateria). Desde o álbum de estreia, percebe-se que a banda tem se tornado cada vez mais entrosada, tocando com uma naturalidade que reflete o impacto instrumental e a sofisticação composicional que já se tornaram características do grupo. Há uma evidente democracia na forma como cada membro contribui com o som, resultando em um disco coeso e bem equilibrado.
Uma das marcas registradas da Ovrfwrd, presente também neste álbum, é a habilidade de transformar desenvolvimentos simples, como os encontrados no blues rock, em peças intricadas que rivalizam com as melhores jam bands. Ao longo de seus quase 70 minutos e que são distribuídos em 10 faixas, a banda explora uma rica tapeçaria de sons e texturas que vão do progressivo clássico ao jazz fusion, passando pela música psicodélica. Cada peça é robusta, mantendo o ouvinte engajado do início ao fim.
A faixa de abertura, “Red Blanket,” começa com uma forte marcação da seção rítmica e uma flauta delicadamente pontuada — executada no teclado. O que surpreende é a linha de trompete que surge logo em seguida, um toque inesperado e brilhante, embora não haja ninguém creditado no instrumento. Talvez seja mais uma intervenção do teclado, mas, de qualquer forma, a ideia ficou muito boa. A faixa tem uma forte tendência jazzística — especificamente jazz rock — com uma seção rítmica rica e cheia de nuances, além de guitarras que alternam entre o peso e a suavidade e teclados que criam uma melodia exuberante ao fundo.
“Eagle Plains” começa de forma etérea, criando uma atmosfera onírica que cativa pela sofisticação. O piano quase clássico, acompanhado por notas espaçadas de baixo e toques sutis de guitarra, prepara o terreno para que a bateria entre em cena e eleve a música a um novo patamar, tornando-a mais vigorosa. Linhas de guitarra bem elaboradas, solos incandescentes de sintetizadores e teclados sinfônicos, sustentados por uma seção rítmica sólida, fazem desta faixa um dos destaques do disco. “The Virtue of...” inicia de maneira sombria, com uma mistura de space rock atmosférico e post rock ambiental. A guitarra inflama a música ao longo de sua extensão, alternando com rajadas de órgão que remetem ao Jon Lord. Baixo e bateria novamente criam uma base pulsante, mantendo a tensão e o interesse do ouvinte.
“Flatlander” é a faixa mais pesada do álbum, flertando com o heavy metal. Aqui a banda entrega um instrumental mais direto, onde todos os instrumentos se unem para criar um ambiente distorcido e agressivo. A música não possui muita variação, então foi acertada a decisão de mantê-la curta, evitando que se prolongasse desnecessariamente. “Tramp Hollow” é outra música com pouca variação, o que pode causar uma leve frustração, já que a banda parece estar preparando o ouvinte para uma mudança de ritmo que nunca chega. No entanto, ainda assim, a faixa tem seus atrativos, com solos de guitarra vibrantes, linhas de baixo pulsantes, bateria sólida e teclados que preenchem bem todos os espaços, culminando em um solo de piano interessante no final.
“Notes of the Concubine” inicia com um violão que poderia muito bem ter saído de um disco de Steve Hackett devido à sua aura clássica. A música assume um tom psicodélico até que algumas notas mais enérgicas de piano anunciam uma mudança de direção, que se concretiza com a entrada dos demais instrumentos. Para aqueles familiarizados com o King Crimson, essa faixa ressoará como as composições mais abstratas e dissonantes da banda. Sombria e angustiante, a música também oferece momentos influenciados pelo jazz de vanguarda.
“Eyota,” com seus quase 13 minutos, é a peça mais longa do álbum. O título homenageia uma cidade de Minnesota, cujo nome deriva de um termo Sioux que significa “o maior.” Nada mais justo, afinal, trata-se do ápice do álbum em termos de composição. O piano abre a faixa, seguido por uma explosão da bateria que introduz elementos de zeuhl nos primeiros três minutos e meio, até que o piano solitário volta a guiar a música para uma direção mais acessível e menos experimental. No geral, é uma faixa que oscila entre momentos agressivos e serenos, mas sempre dentro de uma atmosfera sinistra, onde as teclas se destacam como o grande trunfo da peça.
“Chateau La Barre” é na minha opinião um ponto fraco do álbum, mas dura pouco mais de dois minutos. Um teclado eletrônico lidera a faixa que parece mais um interlúdio ligando a faixa anterior à próxima. No entanto, esse “gancho” não combina bem com nenhuma das duas, ficando deslocado tanto em relação as duas faixas quanto ao álbum como um todo. “Serpentine” começa com uma vibe que remete ao White Stripes, misturada com uma explosão sonora quase metálica. A faixa varia entre momentos pesados e outros mais suaves, com uma veia jazzística evidente, especialmente nos ataques de Hammond. “The Way” é a faixa final, excelente tanto para encerrar o álbum, quanto para finalizar os shows da banda. É uma ilustração perfeita de quatro músicos que trabalham quase como metrônomos humanos. Linhas de baixo que talvez sejam as melhores do álbum, solos fervorosos de guitarra e teclados atmosféricos, além de uma bateria exuberante, confeccionam um final de álbum que não poderia ser melhor.
Ao chegar ao final deste álbum de quase 70 minutos, percebi que apenas os pouco mais de dois minutos de “Chateau La Barre” que verdadeiramente não me agradaram. Isso me deu a certeza de que estava diante de uma grande banda que produziu mais um feito notável e que merece uma repercussão muito maior do que tem atualmente. There Are No Ordinary Moments é um disco com um nível incrível de musicalidade e cheio de variações, que mesmo explorando inúmeros caminhos e direções diferentes, consegue se manter coerente e cativante.
NOTA: 8.8/10
Gênero: Rock Progressivo
Faixas:
2. Eagle Plains - 7:58
3. The Virtue of... - 5:52
4. Flatlander - 3:14
5. Tramp Hollow - 5:28
6. Notes of the Concubine - 8:20
7. Eyota - 12:39
8. Chateau La Barre - 2:12
9. Serpentine - 6:54
10. The Way - 7:30
segunda-feira, 30 de dezembro de 2024
Julia Holter - Something in the Room She Moves (2024)
Julia Holter é conhecida por sua abordagem musical experimental na música pop e alternativa. Começou a estudar música desde cedo, aprendendo piano, violão e canto. Ela frequentou a Alexander Hamilton High School e depois estudou composição musical no California Institute of the Arts, onde obteve seu BFA e MFA.
A música de Holter é frequentemente descrita como uma fusão única de diversos gêneros, incluindo música erudita, pop experimental e eletrônica ambiental. Essa fusão eclética resulta em um som original e cativante. O aspecto mais notável são suas letras poéticas e atmosféricas, que podem transportar os ouvintes para um universo emocionalmente rico e evocativo. As letras muitas vezes exploram temas profundos e introspectivos, enquanto a atmosfera musical proporciona uma sensação de imersão e contemplação.
Something in the Room She Moves é o mais novo álbum da artista, trazendo novamente suas principais características, como composições intrincadas e arranjos complexos. Cada faixa é cuidadosamente elaborada, com camadas de instrumentação que se entrelaçam de maneira sofisticada, criando uma experiência auditiva rica em detalhes e texturas sonoras.
Something in the Room She Moves possui uma carga emocional profunda, influenciada em parte pela experiência pessoal da artista Julia Holter durante a pandemia do COVID-19 e sua jornada na maternidade. A composição captura momentos íntimos e reflexivos, refletindo a complexidade dos sentimentos que surgem em tempos de incerteza e transformação. Holter infunde a música com uma sensação de reverência e maravilha diante da vida e do amor. Os arranjos sonoros evocam uma atmosfera de contemplação e introspecção, enquanto as letras poéticas exploram temas de conexão humana, esperança e resiliência.
"Sun Girl" é uma música que inicia por meio de uma boa vibração de indie pop e se mantem assim na maior parte do tempo. O final expansivo e atmosférico em uma frase repetida várias, pode significar uma narração cheios de ideias e visões criativas, onde a mente se liberta para explorar novas possibilidades. "These Morning" é uma faixa melancólica que tem o saxofone como maior destaque, porém, no geral tudo soa de forma profunda provocando uma espécie de cruzamento entre as sensações conforme tudo vai se desenvolvendo. Tudo isso sob uma letra que parece explorar temas de esperança, arrependimento, vulnerabilidade e escapismo
"Something in the Room She Moves" começa doce e serena, mas conforme vai se desenvolvendo, também cresce bastante em intensidade, chegando em um pico quase sinfônico antes de retornar para as suas batidas serenas e melodia melancólica. Traz a busca como tema de sua narrativa, além da admiração e contemplação, com uma mistura de elementos mundanos e surreais.
"Materia" é bastante intimista e produzida basicamente por meio dos vocais e usos pontuais de teclados que adicionam uma atmosfera taciturna e melodia arrastada, enquanto Holter explora um amor idealizado e compartilhando experiências intensas. "Meyou" é bastante experimental e viajante, onde a sua letra se baseia apenas em repetir inúmeras vezes o nome da faixa. De vocal solo que vai se transformando aos poucos em uma improvisação heterofônica, liricamente pode indicar um equilíbrio ou uma dinâmica de reciprocidade na interação entre duas pessoas.
"Spinning" possui uma base mais pulsante, com o baixo nas alturas e sintetizadores que a permeiam por toda parte, além das batidas serem mais tempestuosas. Uma autorreflexão que sugere uma aceitação diante de uma jornada pessoal, incluindo tanto os momentos de alegria quanto de tristeza. "Ocean" é uma faixa instrumental. Composta principalmente por teclados espaciais e sintetizadores, a música é construída em camadas intricadas, criando uma paisagem sonora densa e envolvente.
"Evening Mood" possui uma atmosfera bastante liquida, enquanto as suas melodias se entrelaçam, sendo as linhas de baixo e as camadas de teclados seus maiores destaques. Uma verdadeira evocação de sentimentos nostálgicos, conexão e contemplação sobre a passagem do tempo. "Talking to the Whisper", uma desconexão e separação entre duas pessoas e que explora temas como a distância, comunicação, esperança e a natureza complicada do amor. É mais um momento do disco que contem boas doses de experimentações e pinceladas lisérgicas encaixadas brilhantemente.
"Who Brings Me", a ideia do menos é mais que existe dentro do minimalismo pode ser aplicada facilmente aqui. O disco chega ao fim com uma peça encantadora, entregando novamente teclas em camadas, enquanto isso, Holter explora temas como sonho, natureza e o amor, evocando uma sensação de admiração e devoção pelo mundo ao nosso redor e pela pessoa amada.
Something in the Room She Moves é um disco que se comporta como uma montanha-russa de experiências musicais. É evidente que Holter se aventurou por uma variedade de estilos, sons e temas, buscando desafiar as expectativas e criar algo valioso, nos convidando para mergulharmos nas profundezas da nossa própria alma e explorar os mistérios do coração humano.
NOTA: 9.2/10
Gênero: Art Pop
Faixas:
2. These Morning - 3:49
3. Something in the Room She Moves - 6:18
4. Materia - 3:08
5. Meyou - 5:55
6. Spinning - 6:14
7. Ocean - 5:38
8. Evening Mood - 6:24
9. Talking to the Whisper - 6:52
10. Who Brings Me - 3:38
The Messthetics and James Brandon Lewis - The Messthetics and James Brandon Lewis (2024)
Antes de mais nada, quem são The Messthetics e James Brandon Lewis? O primeiro, é uma banda instrumental de rock experimental, composta pelo baterista Brendan Canty e pelo baixista Joe Lally — ambos anteriormente membros da influente banda de punk, Fugazi — junto com o guitarrista Anthony Pirog. A banda explora sons densos e complexos, enquanto também consegue incorporar momentos de suavidade e beleza. A combinação do baixo e bateria fornecidos por Lally e Canty com as experimentações de guitarra de Pirog cria uma textura sonora distinta.
James Brando Lewis é um saxofonista com uma presença marcante no cenário do jazz contemporâneo. Ele combina elementos de jazz tradicional com influências modernas como hip-hop, funk e soul. Isso resulta em um som único que desafia as convenções do jazz e incorpora uma energia vibrante. Lewis é frequentemente elogiado pela forma como combina suas raízes no jazz com uma abordagem contemporânea, criando músicas que são tanto cativantes quanto desafiadoras. Sua capacidade de comunicar emoções complexas por meio de seu saxofone é uma marca registrada de sua carreira.
Dito isso, The Messthetics and James Brandon Lewis é um autointitulado do projeto que nasce de uma colaboração entre duas forças musicais excepcionais. Essas forças unem suas habilidades e experiências para criar uma fusão vibrante de estilos musicais, como jazz rock, art punk e rock progressivo. O resultado é uma obra repleta de complexidades e detalhes sutis, com improvisações inspiradas e uma energia contagiante que permeia cada faixa do disco. Os dois lados trazem suas próprias abordagens criativas e bagagem musical, resultando em uma mistura única de sons que mesclam harmonias e ritmos diversos. Cada peça do álbum explora diferentes aspectos desses gêneros musicais, permitindo que os músicos se expressem livremente através de suas composições e interpretações.
É importante ressaltar, que a colaboração entre The Messthetics e James Brandon Lewis não resulta em um som denso ou numa massa sonora opressiva – ainda que haja ataques instrumentais efusivos em alguns pontos. Essa parceria se destaca pela sua abordagem sutil e equilibrada, onde cada músico contribui com sua experiência e estilo de maneira harmoniosa. Eles conseguem criar uma textura sonora rica e complexa, mantendo um caráter leve e acessível ao mesmo tempo. Há uma exploração musical muitas vezes por meio de algumas nuances delicadas, evitando qualquer tipo de sobrecarga ou exagero sonoro. Em vez de criar uma parede de som avassaladora, eles optam por uma interação fluida e dinâmica e que destaca as habilidades individuais de cada um, enquanto mantém uma coesão impressionante.
The Messthetics and James Brandon Lewis se destaca pela ausência de qualquer trecho fraco ou mediano, com todas as faixas fluindo naturalmente. Cada composição é convincente e envolvente, demonstrando uma fusão magistral de vários elementos musicais. Todas as mesclas de gêneros distintos soam de forma harmoniosa e impactante, criando uma experiência auditiva única e memorável. A maneira como os músicos combinam, por exemplo, os elementos do rock e do jazz, resulta em uma obra que transcende as expectativas convencionais, apresentando algo realmente inovador. Nestes casos, as influências do jazz aparecem de maneira sutil e refinada, enquanto os aspectos do rock, outorga energia e intensidade às faixas.
O álbum é uma recomendação essencial para quem deseja explorar a fusão única entre o jazz e o rock, passeando por algumas ruelas ao lado do punk, além da música experimental e progressiva. Com uma excelente abordagem, a música oferece uma experiência envolvente, proporcionando aos ouvintes um itinerário sonoro que desafia expectativas convencionais. Os ouvintes são presenteados do começo ao fim com uma variedade de nuances, desde solos impressionantes até passagens melódicas atraentes, tornando este álbum um verdadeiro petardo para quem aprecia a criatividade musical em sua forma mais pura. Pra quem se deixar levar, é uma viagem inesquecível, pois irá expandir seus horizontes musicais e mergulhar em uma combinação de sons que é surpreendente e emocionante.
The Messthetics and James Brandon Lewis se revela como uma fascinante interseção entre a improvisação livre e o espírito rebelde do rock, incorporando ainda a energia crua do punk. A combinação de estilos resulta em uma experiência auditiva imprevisível, que conquista os ouvintes pela fusão única de gêneros. O álbum se destaca por sua diversidade sonora, que dá espaço a melodias e refrãos cativantes. Além disso, a capacidade de alternância entre passagens intensas e dinâmicas e momentos mais suaves e melódicos demonstra uma ótima versatilidade do quarteto.
Por fim, o álbum gravado em apenas alguns dias, captura uma energia intensa e autêntica que revela a incrível química entre os músicos. Cada integrante trabalha em conjunto, desafiando-se mutuamente a sair de suas zonas de conforto e explorar novos territórios musicais. Embora o processo seja gradual, a colaboração dinâmica se traduz em um som fresco e empolgante, evidenciando a força coletiva de um projeto que tem a potencial de inovar cada vez mais.
NOTA: 9.5/10
Gênero: Jazz Rock, Música de Vanguarda
Faixas:
2. Emergence - 2:59
3. That Thang - 3:11
4. Three Sisters - 5:15
5. Boatly - 7:27
6. The Time is The Place - 5:58
7. Railroad Tracks Home - 7:15
8. Aesthenia - 2:32
9. Fourth Wall - 6:56
Onde Ouvir: Plataformas de Streaming e Youtube
domingo, 29 de dezembro de 2024
Ill Considered – Precipice (2024)
Ill Considered é uma banda que surgiu em 2017, quando Emre Ramazanoglu (bateria) e Idris Rahman (saxofone) resolveram iniciar um projeto musical com enfoque na experimentação e improvisação. Eles tinham o desejo de explorar novos caminhos criativos, adotando uma formação instrumental que abrange bateria, saxofone e baixo, esse último ficando a cargo de Jean-Marie Brichard. A primeira sessão de jam que a banda realizou foi registrada e, logo em seguida, mixada e masterizada em um intervalo de 24 horas, resultando na produção do álbum de estreia do grupo.
A abordagem independente de produção no estilo "faça você mesmo" mostrou-se extremamente eficiente para a banda. Nos três anos seguintes ao seu início, trabalharam de forma autônoma na criação de diversos álbuns. No total, eles lançaram nove álbuns, sendo que alguns foram gravados ao vivo em performances enérgicas, enquanto outros foram registrados em estúdio. A combinação de sua abordagem improvisada e a sua dedicação à produção ágil e independente consolidou a posição do Ill Considered como uma presença marcante no cenário do jazz instrumental contemporâneo.
Essa metodologia de trabalho, marcada por experimentações ousadas e uma busca constante por novos sons e técnicas, definiu não apenas a identidade artística do trio, mas também serviu como um catalisador para sua evolução contínua. O grupo vem construindo um legado que é marcado por uma discografia rica em variedade e profundidade, além de desafiadora. Sua mais nova obra a ser exposta em sua vitrine musical, também é uma sequencia natural de um rio agitado, mas que sabe exatamente para onde está indo.
Precipice é um álbum que incorpora elementos do jazz estilo livre, conhecido como free jazz, com influências de músicas de vanguarda. Essa fusão oferece uma experiência sonora poderosa. As composições do álbum exploram harmonias não convencionais, ritmos complexos e improvisações intensas, criando paisagens sonoras que capturam a essência do jazz moderno, enquanto se aventuram em terrenos experimentais. Ramazanoglu, Rahman e Brichard proporcionam ao ouvinte uma dinâmica envolvente, entregando peças que são um verdadeiro deleite para quem aprecia músicas feitas com liberdade criativa.
Ainda que o trio tenha sido conhecido por sua ousadia e experimentalismo em álbuns anteriores, não é justo usar isso para diminuir a grandiosidade do novo trabalho. Idris Rahman é um saxofonista incrível e está à frente da sonoridade do disco, liderando com performances marcantes que equilibram ataques energéticos com notas espaçadas, sempre executadas com um forte senso de direção e propósito. Esse equilíbrio entre intensidade e calma permite que o álbum entregue uma experiência auditiva rica e multifacetada.
Enquanto isso, Jean-Marie Brichard e Emre Ramazanoglu entregam uma seção rítmica firme e cuidadosamente trabalhada. Brichard, no baixo, e Ramazanoglu, na bateria, demonstram uma incrível sincronia enquanto executam linhas rítmicas sólidas e dinâmicas em performances que se complementam muito bem. Os dois trazem uma combinação de energia e estabilidade ao disco, sustentando as melodias com firmeza. As linhas de baixo adicionam profundidade ao som, enquanto os ritmos de bateria de Ramazanoglu marcam o tempo com clareza e precisão, monde ambos estabelecem uma estrutura musical robusta que mantém o disco interessante do início ao fim, proporcionando uma experiência sonora valiosa.
Embora o álbum apresente uma quantidade menor de explosões sonoras e passagens instrumentais intensas do que eu normalmente costumo preferir em trabalhos dessa natureza, sua música é uma experiência auditiva excepcional. Precipice proporciona uma atmosfera agradável, que pode ser apreciada de várias maneiras distintas. Quando tocado em segundo plano, o álbum cria um ambiente sonoro suave e harmonioso, ideal para momentos de relaxamento ou atividades cotidianas. Suas melodias tornam-se uma trilha sonora agradável que acompanha suavemente o ambiente, proporcionando uma sensação de serenidade.
Em contrapartida, caso o ouvinte queira imergir dentro do álbum e abraçar toda a sua profundidade e complexidade, os arranjos intricados e as harmonias cuidadosamente construídas o convidam para uma viagem sônica profunda. Essa versatilidade é o mais interessante, pois atende a diferentes estados de espírito e preferências, agradando tanto a quem busca uma experiência tranquila quanto a quem deseja uma imersão mais profunda na música.
NOTA: 8.1/10
Gênero: Free Jazz, Música de Vanguarda
Faixas:
2. Don't Be Sad (It's Too Late) - 3:23
3. Vespa Crabro - 6:01
4. Linus with the Sick Burn - 3:39
5. And Then There Were Three - 4:15
6. Katabatic - 5:05
7. Black Lacquer - 4:02
8. Kintsugi - 2:20
9. Solenopsis - 6:41
10. Alpenglow - 4:41
Shabaka - Perceive Its Beauty, Acknowledge Its Grace (2024)
sábado, 28 de dezembro de 2024
Steve Hackett - The Circus and the Nightwhale (2024)
Steve Hackett retorna pouco mais de dois anos após seu último trabalho, Surrender of Silence de 2021, com seu 30° álbum solo, The Circus and the Nightwhale. Este novo trabalho é um disco conceitual, composto por 13 faixas que giram em torno de um jovem personagem chamado Travla. No entanto, como o próprio guitarrista revelou, o álbum também possui um ângulo autobiográfico, permitindo que ele externalize muitas coisas que queria expressar há tempos. Dessa forma, o disco pode ser visto como uma jornada pela vida do guitarrista, seja de forma literal ou metafórica.
Embora o álbum contenha 13 faixas, ele é relativamente compacto, com apenas 44 minutos de duração, diferenciando-se dos seus trabalhos anteriores que tinham uma influência marcante de world music. Aqui, Hackett opta por mergulhar em uma sonoridade progressiva mais clássica. Para os fãs mais puristas que talvez tenham perdido o interesse nos álbuns mais recentes do guitarrista, este pode ser o momento ideal para redescobrir sua música.
Aos 74 anos, Steve Hackett poderia facilmente desfrutar dos louros de sua carreira brilhante. No entanto, ele escolhe continuar prolífico, não apenas realizando grandes shows pelo mundo, mas também criando discos com material inédito, algo que faz em intervalos relativamente curtos. Como de costume, Hackett conta com a participação de músicos de peso, como Roger King (teclados, programação e arranjos orquestrais), Amanda Lehmann (vocais), Nad Sylvan (vocal e guitarra), Benedict Fenner (teclados), Rob Townsend (saxofone e tin whistle), John Hackett (flauta), entre outros. Durante o álbum, Hackett não apenas toca guitarra, violões de 6 e 12 cordas, bandolim, gaita, percussão e baixo, mas também assume os vocais.
O álbum começa com "People of the Smoke", que inicia com efeitos sonoros e um trecho do programa de rádio infantil da BBC, Listen With Mother. Hackett entrega vocais equilibrados e linhas de guitarra prazerosas, enquanto a bateria de Nick D'Virgilio é precisa e refinada. Essa faixa sinfônica dá um ótimo início ao disco. O vídeo oficial de "People of the Smoke" é uma evocativa homenagem à Londres nebulosa da época, capturada por Paul Gosling. "These Passing Clouds" é a primeira das quatro faixas com menos de dois minutos de duração. Trata-se de uma peça instrumental sinfônica com um dos solos de guitarra mais intensos do álbum, apesar de sua curta duração. Já "Taking You Down" foi composta em homenagem a um amigo problemático de Hackett na escola, entregando uma das guitarras mais ferozes do disco, complementada pelos vocais de Nad Sylvan e um saxofone agressivo.
"Found and Lost" é uma faixa intimista que rememora o primeiro amor de Hackett, marcado por desilusões e caminhos divergentes. A melancolia da música é reforçada pela interpretação vocal pessoal do guitarrista. Em seguida, "Enter the Ring" revisita as memórias da fama nos anos 70 com o Genesis, sendo uma das melhores faixas do disco, com seus solos de guitarra, flautas flutuantes e atmosfera circense. "Get Me Out" reflete as frustrações de Hackett com o Genesis após a saída de Peter Gabriel, especialmente a sensação de ser deixado de lado. A faixa é uma das mais pesadas do álbum, com guitarras intensas e uma orquestração em ritmo de marcha. "Ghost Moon and Living Love" narra a determinação de Hackett em seguir seu próprio caminho após a saída do Genesis. Com quase sete minutos de duração, é a maior peça do disco, destacando-se pelos vocais de Amanda Lehman e solos de guitarra encantadores.
"Circo Inferno", por sua vez, explora o período caótico do guitarrista em sua ex-banda, misturando sonoridades de metal progressivo e influências do Oriente Médio. As faixas mais curtas "Breakout" e "All at Sea" mantêm a energia do álbum, com a primeira sendo um rock instrumental ardente e a segunda transitando para uma atmosfera mais sombria. "Into the Nightwhale" aborda a superação de demônios pessoais com uma melodia que lembra "Darkness" de Peter Gabriel e vocais que evocam David Gilmour. Finalmente, "Wherever You Are" é uma declaração de amor para a esposa de Hackett, enquanto "White Dove" encerra o disco com uma peça instrumental melancólica e romântica.
Mesmo soando mais como um disco de rock progressivo clássico, The Circus and the Nightwhale se desenvolve de maneira diversificada e envolvente. O álbum prova que mesmo após tantos anos, Steve Hackett continua sendo um músico relevante e inspirador.
NOTA: 8/10
Gênero: Rock Progressivo
Faixas:
2. These Passing Clouds - 1:34
3. Taking You Down - 4:17
4. Found and Lost - 1:50
5. Enter the Ring - 3:52
6. Get Me Out - 4:15
7. Ghost Moon and Living Love - 6:43
8. Circo Inferno - 2:30
9. Breakout - 1:37
10. All at Sea - 1:46
11. Into the Nightwhale - 4:06
12. Wherever You Are - 4:18
13. White Dove - 3:13
Cindy Lee – Diamond Jubilee (2024)
Cindy Lee, é um pseudônimo usado por Patrick Flegel. O projeto é um mergulho profundo e distintivo nos limites da música e da expressão artística. Flegel, anteriormente membro da banda Women, conhecida por suas contribuições ao gênero art punk no Canadá, encontrou-se numa encruzilhada criativa e pessoal após o trágico fim da banda. O falecimento de Christopher Reimer, talentoso colega de banda, em 2012, foi um golpe devastador que certamente impactou a trajetória musical de Flegel. Sob o pseudônimo Cindy Lee, Flegel adota uma abordagem musical que incorpora elementos - entre outros - do pop barroco, do noise rock e da música lo-fi, criando uma atmosfera sonora melancólica.
A estética visual de Cindy Lee também merece destaque, frequentemente explorando temas de feminilidade, androginia e horror psicológico, que se interligam de maneira complexa com as camadas sonoras da música. Esta escolha de pseudônimo e persona, permite a Flegel explorar identidades e expressões que talvez fossem restritas em formatos mais convencionais de performance musical. A cada trabalho, Flegel reinventa suas expressões criativas de maneira profunda e tocante, desafiando os ouvintes a entrar em um mundo que pode ser visto como perturbadoramente belo.
Seu álbum mais recente, Diamond Jubilee, é um trabalho duplo que se destaca como um marco importante na sua trajetória artística. Com 32 faixas e mais de 2 horas de duração, o álbum propõe uma viagem ambiciosa. Ele explora uma ampla gama de estilos e experiências sonoras, proporcionando uma fusão de atmosferas distintas, que oscilam entre o etéreo e o intenso. Se trata de uma obra multifacetada e que pode atingir o público em diversos níveis, mas sempre apresentando uma experiência auditiva rica e cativante.
Ainda sobre a sua longa duração, Patrick parece não ter medido esforços para que não houvesse nenhuma gordura em meio as suas mais de três dezenas de músicas. Cada peça foi cuidadosamente bem composta para se encaixar perfeitamente no contexto do álbum, contribuindo para a sua atmosfera imersiva. Isso acaba impedindo que o álbum caia na monotonia, mantendo o ouvinte envolvido e intrigado. Também aponta mais um ponto bastante positivo em relação a Flegel, demonstrando não só sua destreza técnica, mas também sua capacidade de contar histórias e evocar emoções através da sua música.
Infelizmente, em um cenário dominado pelos serviços de streaming e suas playlists que incentivam audições superficiais e imediatistas, lançar um disco com essa extensão pode não ter sido a decisão mais acertada. Mas embora o atual cenário possa favorecer audições superficiais e instantâneas, ainda há um público significativo que valoriza a profundidade da música. Para esses ouvintes, um álbum como Diamond Jubilee pode representar uma oportunidade de se envolver profundamente com a arte, explorando suas camadas e nuances ao longo do tempo.
Uma das coisas que mais me atraem na música, são aquelas obras que conseguem ser incrivelmente ambiciosas sem cair na armadilha da pretensão. É como se elas simplesmente fluíssem e acontecessem, e ao mesmo tempo, sua grandiosidade se construísse de forma tão natural que é impossível não se deixar levar. Cada faixa se desenrola de uma maneira tão coesa e envolvente, que acaba transformando a audição em uma experiência que é um testemunho de algo verdadeiramente extraordinário. Assim, a música se torna mais do que apenas sons, mas uma expressão sublime da criatividade humana.
A influência do folk e até mesmo da música country americana em Diamond Jubilee adiciona uma camada adicional de textura e profundidade ao álbum, complementando os estilos mais esperados, como o noise pop, no wave, pop psicodélico, lo-fi e indie rock. Essas influências podem ser sutis, mas ainda assim se destacam, enriquecendo a paleta sonora do álbum e acrescentando uma dimensão emocional interessante.
O álbum traz em seu conteúdo, acenos a praticamente todas as décadas da música desde os anos 60, mas em momento algum se embaralha em sua própria ousadia, muito pelo contrário, sua coesão apenas transmite um impacto de autenticidade e comoção pura. Não há esforço consciente para imitar ou seguir tendências; em vez disso, o álbum parece acontecer organicamente por meio de uma visão criativa única de Patrick, onde a partir disso, consegue soar em forma de uma espécie de celebração da riqueza e diversidade da música.
O talento de Patrick Flegel é realmente notável, sua habilidade em criar músicas que são simultaneamente cativantes e enigmáticas é brilhante. Por meio de Diamond Jubilee, ele demonstra não apenas sua destreza como compositor e músico, mas também, sua capacidade de criar uma atmosfera misteriosa e envolvente, que mantém o ouvinte todo o tempo intrigado e surpreso conforme o disco avança rumo ao desconhecido, mostrando cada um dos lados do seu conteúdo multifacetado.
Não tem como deixar de falar também da produção. O clima sombrio que permeia a produção do disco é uma escolha artística que se revela bastante apropriada. Essa atmosfera sombria adiciona uma profundidade emocional e uma intensidade dramática às músicas, mergulhando em um universo sonoro repleto de mistério e melancolia. Além disso, esse clima contribui para a coesão do álbum, unificando as faixas em uma narrativa sonora bem ajustada, fazendo com que cada uma de suas músicas encaixem perfeitamente dentro desse contexto.
Por fim, citei a duração do disco algumas vezes e suas 2 horas realmente podem ser um problema para alguns ouvintes, mas sinceramente, não tem como deixar mais conciso aquilo onde tudo soa como essencial. Cada faixa de Diamond Jubilee parece tão crucial, tão vital para a narrativa geral, que cortar qualquer parte do disco comprometeria sua integridade. Do começo ao fim, sinto-me ser levado a um espaço emocional e sonoro que simplesmente não seria possível em um formato mais curto. Diamond Jubilee é uma exposição franca do talento de Patrick Flegel.
NOTA: 10/10
Gênero: Pop Psicodélico, Indie Rock
Faixas:
2. Glitz - 4:10
3. Baby Blue - 3:55
4. Dreams Of You - 2:46
5. All I Want Is You - 3:00
6. Dallas - 3:15
7. Olive Drab - 1:31
8. Always Dreaming - 3:43
9. Wild One - 2:04
10. Flesh And Blood - 5:13
11. Le Machiniste Fantome - 1:02
12. Kingdom Come - 4:42
13. Demon Bitch - 4:24
14. I Have My Doubts - 3:32
15. Til Polarity's End - 4:04
16. Realistik Heaven - 3:42
17. Stone Faces - 4:22
18. Gayblevision- 2:56
19. Dracula - 6:08
20. Lockstepp - 4:39
21. Government Cheque - 5:06
22. Deepest Blue - 2:57
23. To Heal This Wounded Heart - 3:33
24. Golden Microphone - 2:49
25. If You Hear Me Crying - 4:01
26. Darling Of The Diskoteque - 3:04
27. Don't Tell Me I'm Wrong - 4:48
28. What's It Going To Take - 3:29
29. Wild Rose - 3:50
30. Durham City Limit - 5:24
31. Crime Of Passion - 3:13
32. 24/7 Heaven - 5:25
Sierra Ferrell - Trail of Flowers (2024)
Sierra Ferrell é uma cantora e compositora americana de música country e folk, conhecida por seu estilo único e vintage que evoca as raízes da música americana. Ferrell se destaca por sua voz poderosa e versátil, capaz de transmitir uma ampla gama de emoções em suas performances. Ela também é conhecida por tocar vários instrumentos de cordas, incluindo violão, banjo e violino. Seu nome vem de uma crescente de admiradores não apenas na cena country, mas também entre os fãs de música folk e indie que apreciam sua abordagem fresca e sincera.
Uma das características mais marcantes de Sierra Ferrell é sua voz rica e expressiva. Ela tem a habilidade de alternar entre tons suaves e melódicos a gritos poderosos, criando uma gama emocional ampla em suas performances. Sua voz é comparada à de lendas do country como Dolly Parton e Loretta Lynn, mas com uma originalidade distinta. Além do country clássico, ela também canaliza elementos do blues, folk, jazz e até mesmo algumas incursões de swing, capturando assim, um maior número de audiência para a sua música.
As composições líricas de Ferrell são cativantes, mergulhando o ouvinte em um mundo de imagens nítidas e narrativas que variam entre profundas e às vezes até um pouco inocentes. Ela se destaca como uma boa contadora de histórias por meio de letras que tecem temas universais como amor, perda e autodescoberta. É a maneira como ela entrelaça seus temas em uma teia poética que torna suas canções tão envolventes.
A fusão de elementos clássicos com uma abordagem contemporânea confere a Trail of Flowers uma qualidade atemporal, capaz de atrair tanto os fãs tradicionais da música country, quanto os ouvintes mais contemporâneos, sempre criando uma paisagem musical rica e cativante, além de entregar uma expressão musical coesa e autêntica.
Por meio de "American Dreaming", Sierra abre o disco expressando a angústia e desconexão emocional de alguém preso em um ciclo de insatisfação, buscando significado em um ambiente sem descanso ou realização, enquanto que em "Dollar Bil Bar", há uma exploração de temas de relacionamentos, expectativas e autoconhecimento, destacando a necessidade de cautela nas interações sociais e de confiança em si mesmo para evitar desilusões.
"Fox Hunt" foi o primeiro single do álbum, um country moderno com incursões clássicas do gênero em que Sierra de forma metafórica usa a caça como exemplo para representar os desafios da vida, transmitindo uma mensagem de persistência e resiliência diante das adversidades. "Wish You Well", de forma doce e bela, aborda temas universais de superação pessoal, perdão e o desejo sincero de paz e redenção para aqueles que nos feriram.
"I Could Drive You Crazy" é um dos pontos altos do álbum, apresentando uma expressão divertida e autoconfiante de alguém que se orgulha de sua capacidade de provocar e influenciar os outros de forma leve e bem-humorada. "Why Haven’t You Loved Me Yet" entrega uma mistura deliciosa de country e honky tonk e que evoca imagens de bares de beira de estrada, enquanto isso, Sierra canta sobre uma vulnerabilidade emocional e a angústia causada pela falta de reciprocidade amorosa.
"Rosemary" é outro dos meus momentos preferidos do disco, com apenas violão e voz, Ferrell discorre maravilhosamente sobre uma jornada pessoal de enfrentar desafios emocionais, superar medos e encontrar renovação e esperança no processo. A figura de Rosemary é uma espécie de símbolo de renovação e recomeço. "Lighthouse" por meio dos seu bandolim, violino e violão entrega uma bela harmonia. A música expressa a vulnerabilidade emocional de alguém em busca de um amor genuíno como um "farol" de esperança diante da escuridão e do medo.
Embora eu não tenha mencionado todas as músicas, cada uma delas possuem méritos próprios e juntas contribuem para criar uma experiência musical sólida e coesa. Ao longo do disco, cada peça apresenta nuances e temas únicos, todas se complementando de forma harmoniosa para construir uma narrativa musical envolvente e cativante. Vale destacar a abordagem honesta e direta de Sierra em relação a temas difíceis, algo que acaba demonstrando com mais clareza ainda toda a sua coragem como artista e sua conexão profunda com sua arte. Com Trail of Flowers, Ferrel apenas confirma o seu nome como um dos grandes da nova geração da música country americana.
NOTA: 8.3
Gênero: Country, Folk
1. American Dreaming - 4:17
2. Dollar Bill Bar - 3:29
3. Fox Hunt - 3:17
4. Chittlin’ Cookin’ Time In Cheatham County - 3:01
5. Wish You Well - 3:38
6. Money Train - 2:40
7. I Could Drive You Crazy - 3:36
8. Why Haven’t You Loved Me Yet - 2:15
9. Rosemary - 3:36
10. Lighthouse - 3:38
11. I’ll Come Off The Mountain - 1:44
12. No Letter - 2:20
sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
Sarah Shook & The Disarmers - Revelations (2024)
Sarah Shook & The Disarmers é uma banda americana de alt-country que se destaca por uma sonoridade que mistura o tradicional e o moderno de uma forma muito particular. Liderada por Sarah Shook, a banda é conhecida por suas letras sinceras e emotivas, que frequentemente abordam temas como relacionamentos complicados, luta pessoal e a busca pela independência. Sarah formou a The Disarmers em 2015, após o lançamento do seu álbum solo Sidelong, também de 2015. A banda inicialmente incluía Eric Peterson na guitarra, Aaron Oliva no baixo, Phil Sullivan na steel guitar e Kevin McClain na bateria.
Musicalmente, combina elementos do country tradicional com influências de punk rock, criando um som distinto e enérgico. Essa fusão pode parecer inusitada à primeira vista, mas resulta em uma música vibrante e cheia de atitude, fazendo com que o seu som se destaque na cena musical justamente por essa habilidade de mesclar o velho e o novo, além de o tradicional e o rebelde, criando um espaço único dentro do alt-country.
Revelations é o quarto disco da banda e foi concebido para aqueles que buscam uma experiência mais vibrante e elétrica na música country. Diferentemente das melodias mais introspectivas e melancólicas que muitas vezes dominam o gênero, especialmente nas vozes de outras cantoras contemporâneas, este álbum oferece uma abordagem mais energética. As músicas são marcadas por guitarras elétricas e ritmos mais pulsantes, proporcionando uma alternativa refrescante às baladas acústicas típicas do gênero.
Vale salientar também, que o disco trouxe uma formação completamente nova, incluindo Sarah que passou a atender pelo nome de River – embora tenha mantido o nome da banda. Os músicos que a acompanham em Revelations são, Blake Tallent na guitarra – que já havia aparecido em Mighmare, disco anterior - Jack Foster na bateria, Andrew Lambie no baixo e Nick Larimore na steel guitar.
O disco inicia com a faixa-título, onde Shook parece abordar a ideia de uma luta contínua com problemas de saúde mental e frustração com as dificuldades da vida cotidiana, enquanto que musicalmente há uma combinação de melodias suaves e harmonias ricas muito bem trabalhadas. "You Don’t Get to Tell Me" apresenta um tema de autoafirmação e resistência, onde Shook expressa uma forte rejeição à ideia de que outras pessoas possam impor sentimentos ou verdades sobre ela. Possui um DNA muito mais calcado no rock, com influências sutis de música country.
"Motherfucker" entrega uma pegada country enérgica contagiante, com elementos característicos do gênero, como acordes marcantes e uma batida pulsante, além de letras fortes em que Shook faz uma declaração de revolta contra o abuso emocional e a manipulação em nome de alguém que está cansado de ser tratado como um brinquedo pelo abusador, estando determinado a enfrentá-lo.
"Dogbane" oferece um contraste intrigante entre a musicalidade e a temática abordada. Enquanto entrega algumas batidas bonitas e notas otimistas, a letra desenha um quadro vívido e poético do fim do mundo. "Nightingale" possui um ritmo mais lento e uma atmosfera melancólica, que deságua em rios blueseiros, criando um pano de fundo sonoro profundamente emotivo. A música contém uma narrativa poderosa sobre enfrentar desafios e continuar a avançar com determinação e orgulho.
"Backsliders" se destaca musicalmente por sua fluidez country excelente, caracterizada por ótimas linhas de guitarra e uma steel guitar charmosa que adiciona uma camada extra de autenticidade e nostalgia à peça. Já em termos líricos, a faixa aborda uma relação complexa e tumultuada, onde ambos os envolvidos têm dificuldade em se afastar um do outro. "Stone Door" também possui uma forte linha country clássica com linhas expressivas de guitarra. Aqui, Shook embarca em uma viagem de memórias intensas de um lugar significativo, sentimentos de liberdade e a ausência de uma pessoa especial durante esses momentos.
"Criminal" encerra o disco de uma maneira memorável, trazendo um toque de country no melhor estilo fora da lei e que estava faltando. É como se Shook mergulhasse profundamente em suas influências, homenageando nomes lendários como Merle Haggard e Johnny Cash, enquanto traz sua própria interpretação para o gênero. A música narra uma história envolvente, transmitindo uma sensação palpável de peso emocional, conflito interno e vulnerabilidade.
Revelations é um disco que se destaca por suas lindas composições, vocais cativantes e instrumentações muito bem desenvolvidas. Cada faixa é um testemunho do excelente trabalho de mixagem e produção, onde o detalhe sonoro é cuidadosamente lapidado para criar uma experiência auditiva rica e envolvente. Shook, mais uma vez, conduz o disco com uma maestria notável, mostrando uma direção clara e segura em cada uma de suas escolhas de caminho.
NOTA: 8/10
Gênero: Country Alternativo, Rock Alternativo
1. Revelations - 3:01
2. You Don't Get To Tell Me - 2:54
3. Motherfucker - 3:09
4. Dogbane - 3:45
5. Nightingale - 5:12
6. Backsliders - 3:45
7. Stone Door - 3:20
8. Jane Doe - 4:28
9. Give You All My Love - 4:06
10. Criminal - 3:39
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