Para iniciar esta resenha, é importante destacar que antes de se tornar Kyros, o projeto era conduzido pelo multi-instrumentista Adam Warne - que após sua transição em 2021, passou a se chamar Shelby Logan Warne. O projeto era conhecido como Synaesthesia, nome sob o qual foi lançado o primeiro álbum. Além de Shelby, o guitarrista Nikolas Jon Aarland também fazia parte do projeto. No entanto, a banda estava prestes a se transformar de um simples projeto solo em uma formação sólida, algo que de fato aconteceu. Embora Nikolas não tenha permanecido para a conclusão do álbum, sendo substituído por Ollie Hannifan, que gravou as guitarras restantes.
Mannequin é o quarto álbum da banda que optou por considerar o disco de estreia Synaesthesia como uma obra solo de Shelby, o que faz sentido dado que sua sonoridade difere bastante dos trabalhos subsequentes. Esse primeiro álbum marcou um recomeço, justificando até a mudança de nome.
Os músicos que participaram de Mannequin são Shelby Logan Warne (vocal e teclados), Joey Frevola (guitarra), Charlie Cawood (baixo) e Robin Johnson (bateria), com a participação especial de Dominique Gilbert nos vocais em "Illusions Inside" e Canyo Hearmichael no saxofone em "Esoterica". O álbum está repleto de ideias complexas, principalmente nas passagens progressivas, que dividem espaço com elementos de synth pop, art rock e rock alternativo. Em resumo, Mannequin é um disco que exige várias audições para ser totalmente desvendado, mas que também é acessível para diferentes públicos graças à sua mistura de estilos.
O álbum começa com "Taste the Day", uma faixa suave que combina violões e vocais sensíveis, acompanhados por teclados que criam uma atmosfera bucólica. É a faixa mais curta do disco. "Showtime" é uma peça instrumental que traz energia desde os primeiros segundos, com sintetizadores que abrem caminho para os demais instrumentos, conduzindo a música de forma dinâmica. Perto do final, há uma pausa antes de uma breve retomada com destaque para o baixo. "Illusions Inside" segue com ataques de bateria e sintetizadores que se fazem presentes ao longo de toda a faixa. A interação vocal entre Shelby e Dominique Gilbert é cativante, especialmente nos refrãos, que soa do tipo que parece convidar o ouvinte a cantar junto. As linhas de baixo são impressionantes e merecem ser ouvidas com bons fones de ouvido. "Esoterica" transporta o ouvinte para os anos 80, com seus sintetizadores e guitarras criando uma atmosfera divertida e dançante, mas também emotiva.
"The End in Mind" se destaca pelo seu interlúdio pesado, onde a seção rítmica brilha com uma performance sagaz, enquanto as guitarras e teclados criam paredes sonoras intensas. É uma faixa repleta de ondulações, que altera o humor do ouvinte várias vezes e que definitivamente se destaca como um dos melhores momentos do álbum. Após a intensidade de "The End in Mind", "Digital Fear" oferece um momento de recuperação, com uma delicadeza envolvente que poderia facilmente ser trilha sonora de um filme de ficção científica. A peça se desenvolve dentro de um tema sinfônico, atmosférico e quase psicodélico, graças principalmente ao trabalho de teclados e sintetizadores.
"Ghosts of You" retorna ao synth pop, mas com acenos progressivos. A cozinha se destaca mais uma vez, unindo-se ao teclado para criar uma sonoridade agradável e dançante, quase como um Jamiroquai mais pesado. "Liminal Space" segue com uma instrumentação cintilante e sonoridades eletrônicas, entregando uma harmonia synth-pop progressiva que a banda executa com maestria. "Technology Killed the Kids IV" é uma faixa que mostra claramente porque o rock progressivo é um dos gêneros associados à Kyros. Cheia de mudanças e variações, a peça é tão tempestuosa e explosiva que, próximo ao final, os fones parecem falhar - um truque brilhante da banda para criar uma cacofonia bem orquestrada e impetuosa.
O álbum encerra com "Have Hope", a faixa mais longa, com quase 8 minutos. É uma peça cheia de modulações, que combina linhas comuns com trechos de "desordem" musical. A guitarra é mais agressiva aqui, enquanto a seção rítmica se mantém consistente, e os teclados criam momentos sinfônicos, psicodélicos e acenos ao synth pop. Um final de álbum digno.
Mannequin é aquele tipo de disco que está sempre em constante evolução e explorando uma infinidade de direções. Contudo, a banda faz isso com uma simetria que evita que sejam vistos como músicos perdidos ou indecisos. Muito pelo contrário, essa montanha-russa de ideias resulta em um direcionamento musical sólido e bem característico. Com isso, Mannequin oferece material suficiente para entreter o ouvinte do início ao fim.
NOTA: 8/10
Gênero: Synth Pop, Art Rock, Rock Alternativo, Rock Progressivo
1. Taste the Day - 2:26
2. Showtime - 4:10
3. Illusions Inside - 5:09
4. Esoterica - 6:55
5. The End in Mind - 7:41
6. Digital Fear - 3:35
7. Ghosts of You - 5:02
8. Liminal Space - 4:39
9. Technology Killed the Kids IV - 7:26
10. Have Hope - 7:57
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