A banda norueguesa de rock progressivo, Infringement, formada em 2015, une elementos clássicos de bandas do passado com um toque contemporâneo, criando uma sonoridade única refrescante. Sua música é marcada por arranjos sofisticados que misturam influências do rock dos anos 70, com uma pegada experimental e moderna, refletindo um desejo constante de reinvenção, porém, sem perder a essência do gênero. Cada membro da banda possuem uma habilidade em criar atmosferas densas e cativantes, utilizando uma vasta gama de instrumentos e efeitos sonoros.
Black Science and White Lies, terceiro disco da banda, é uma obra conceitual que segue a jornada de um homem que enfrenta uma crise espiritual e de identidade, transitando por desilusão religiosa, adesão a uma ideologia utópica, dúvidas crescentes e finalmente a busca por redenção e reconciliação. A narrativa explora temas como conflito espiritual transformação pessoal e o desejo de redenção. Tudo é desenvolvido ao longo de duas faixas épicas com mais de vinte minutos cada uma dela, White Lies e Black Science. Ambas são divididas em seções que contribuem para a progressão emocional e temática da história.
Sempre acreditei que discos nesse formato — contendo apenas dois épicos — representam uma empreitada arriscada, que nem sempre atinge o resultado esperado. Muitas vezes, as bandas acabam prolongando as músicas com trechos desconexos e sem coesão, como se estivessem perdidas, sem saber de onde vieram ou para onde estão indo, forçando a criação de uma peça de vinte minutos que carece de propósito. No entanto, neste caso, devo admitir que a banda fez um trabalho excepcional. As músicas fluem muito bem do início ao fim e com cada trecho bem integrado ao próximo. E mesmo apresentando humores distintos, as composições se complementam de forma harmoniosa.
White Lies inicia o álbum de maneira marcante, com um piano delicado, porém, cheio de presença e que estabelece um tom introspectivo e envolvente. Acompanhado por um discurso emotivo, esse início captura um enorme peso, como se explorasse as complexidades da dúvida e da autorreflexão do personagem. Essa atmosfera é construída de forma gradual, com uma progressão instrumental rica que transmite a inquietação através de uma narrativa emocional.
Conforme a bateria faz sua entrada, a música ganha força e dinamismo, direcionando-se para uma nova fase. Mais a frente, um violão em harmonia com um solo expressivo de sintetizadores, domina a peça, criando uma textura sonora que combina momentos de contemplação com um toque de grandiosidade cinematográfica. É um momento em que a música parece abrir uma janela para paisagens imaginárias, revelando tanto beleza quanto melancolia.
À medida que a faixa avança, as guitarras gradualmente adotam um tom mais pesado e distorcido, marcando uma transformação emocional. Simultaneamente, as rajadas do órgão Hammond tornam-se mais evidentes, adicionando camadas de intensidade e um senso de urgência. Essa combinação cria uma tensão dramática, como se a música estivesse construindo um conflito interno. No entanto, perto do final, o tema inicial ressurge, trazendo consigo uma sensação de familiaridade e encerramento. Essa volta ao ponto de partida dá à peça uma espécie de arco narrativo completo, culminando em um clímax sinfônico belíssimo. É nesse momento que todos os elementos se unem de maneira magistral, encerrando o épico com um enorme impacto emocional.
Black Science inicia com uma atmosfera sombria e intrigante, marcada por uma paleta sonora densa. Os sintetizadores ricos e envolventes, estabelecem uma base de tensão, enquanto acordes espaçados de guitarra adicionam camadas de mistério. Desde os primeiros instantes, a seção rítmica emerge com agressividade, criando um contraste poderoso que sustenta a peça. Essa energia inicial é complementada por mudanças rítmicas complexas, que mantêm o ouvinte atento, e pelas invertidas de órgão, que dão um toque clássico e sofisticado à introdução instrumental.
Durante os primeiros três minutos, a música permanece instrumental, explorando texturas e dinâmicas que fluem de forma impecável. Quando os vocais finalmente entram, eles aparecem de maneira quase teatral, trazendo uma nova dimensão à composição. Em determinado momento, a música silencia quase completamente, reduzindo-se a uma combinação minimalista de vocais e um teclado sinfônico delicado. Esse momento de pausa cria uma sensação de vulnerabilidade, preparando o terreno para a próxima transformação.
Quando a seção rítmica retorna, a música ganha uma nova vitalidade. As harmonias e a riqueza sonora se combinam para entregar uma áurea encantadora, enquanto a peça transita entre momentos de brilho e introspecção. Ao longo de sua extensão, o épico exibe passagens instrumentais de alta complexidade, com solos intrincados que impressionam pela técnica e criatividade. Além disso, as influências sinfônicas se destacam, fundindo elementos do neo-progressivo com o espírito do progressivo clássico. O resultado é uma composição grandiosa e multifacetada. Por volta de 18:30, a banda entrega a parte mais dramática do disco, com o protagonista parecendo ter encontrado um equilíbrio entre a luta interna e a aceitação de sua natureza humana.
Composto por dois épicos que capturam com maestria a essência do rock progressivo, Black Science and White Lies é um valioso artefato que combina a destreza técnica da banda com uma enorme profundidade emocional. O álbum se destaca por equilibrar momentos de progressividade vigorosa com passagens melódicas introspectivas, criando uma jornada sonora tanto poderosa quanto reflexiva.
Também vale destacar, que o sucesso de um disco conceitual desse calibre depende, em grande parte, da habilidade da banda em construir transições coesas e impactantes que não apenas conectem as diferentes seções musicais, mas também contribuem para o seu impacto narrativo. Neste quesito, a banda entrega uma performance incrível, com cada mudança de tom e dinâmica sendo cuidadosamente elaborado para maximizar o efeito emocional e manter bem desenvolvida a continuidade do enredo. Em resumo, Black Science and White Lies não é apenas um álbum para ser ouvido, mas uma experiência para ser degustada, sendo um registro repleto de camadas e detalhes que se revelam a cada nova audição.
NOTA: 9.6/10
Gênero: Rock Progressivo
Faixas:
2. Black Science - 22:53
Onde Ouvir: Plataformas de Streaming e Youtube
Nenhum comentário:
Postar um comentário