Magnum é uma banda inglesa de hard rock que eu sempre achei bastante subestimada, pois ainda que em seus mais de duas dezenas de discos, nunca tenha lançado uma obra-prima, sempre entregou discos muito bons e acessíveis até para aqueles que não são muito chegado no gênero, pois eles também carregam uma clara atmosfera AOR, principalmente por conta da maioria dos seus refrãos, que considero impossível de ouvir e depois não se pegar cantarolando alguns deles mesmo sem perceber. Se existem alguns álbuns que foram feitos para serem apreciados de uma maneira despretensiosa, com certeza, Here Comes the Rain é um deles, não cobre ou espere tanto, apenas deixe as músicas fluírem e aproveite.
A banda foi fundada por Tony Clarkin (guitarra e único letrista) e Bob Catley (vocal), inclusive, são os únicos que estiveram em todos os álbuns da banda, porém, 5 dias antes do lançamento do disco, Clarkin faleceu pacificamente na sua casa devido a uma curta doença. Mas no mês anterior, a banda havia revelado que ele foi diagnosticado com uma rara doença na coluna, o que provocou o cancelamento da turnê da primavera de 2024. Além de Tony e Bob, o disco ainda conta com Rick Benton (teclados), Dennis Ward (baixo) e Lee Morris (bateria) para que seja criado uma coleção de peças sólidas, por meio de habilidades melódicas cativantes e instrumentações muito boas.
Dificilmente a banda vai seguir sem Clarkin, com isso e mesmo que não fosse a ideia inicial, Here Comes The Rain provavelmente será o epitáfio da banda, um último ato para que o guitarrista fizesse o que ele mais gostava na vida segundo palavras dele mesmo e que foram ditas antes do lançamento de Here Comes The Rain, No final das contas, não há nada mais satisfatório para um músico do que criar novas músicas que você realmente goste. Um fechar de cortinas digno e autêntico, assim como a banda sempre foi durante os seus 50 anos de carreira.
“Run into the Shadows” inicia o disco de uma forma que é impossível ser mais edificante, tem um excelente trabalho de guitarra, cozinha sólida e teclados muito bem harmoniosos, enquanto que os vocais de Bob entregam aquela vibração AOR característica de sempre. Uma pena não haver mais uma turnê, pois essa música certamente seria usada - brilhantemente - para abrir os concertos da banda. “Here Comes the Rain” esfria o álbum - não no sentido pejorativo, apenas é diferente da incendiária peça de abertura - por meio de uma batida mais leve, ótima linha de guitarra, teclado emulando cordas ao fundo e linhas adequadas de baixo.
“Some Kind of Treachery” é uma balada que pode soar até meio piegas, mas não vou deixar de admitir que apesar disso, atingiu em cheio o meu coração. Começa com algumas notas de piano antes de baixo e bateria ir lhe fazer companhia, então entra o refrão com a banda completa e eu me vejo em um show do grupo balançando as mãos com a lanterna do celular ligada - em outros tempos seria o meu isqueiro. Falando em refrão, com certeza é o destaque da peça, bastante forte e emocional, porém, vale mencionar também os teclados quase orquestrais mais perto do fim.
“After the Silence” começa por meio de um string que vai emergindo para em seguida toda a banda entrar, construindo uma melodia forte, então silencia para que os primeiros versos sejam cantados. Os momentos dos refrãos são os mais enérgicos, nesse momento, o teclado é quem mais se destaca. A faixa vai seguindo basicamente nessa mesma dinâmica - mas com os vocais ficando cada vez mais desenvoltos.
“Blue Tango”, se eu tivesse que escolher alguma música em Here Comes The Rain para dizer qual a que mais representa o que a Magnum foi durante toda a sua carreira, com certeza seria essa. Mas apesar disso, é impossível não perceber alguns acenos ao southern rock moderno - talvez algo de Lynyrd Skynyrd pós acidente. O solo de órgão, apesar de bem curtinho, deixa a sua marca na peça, assim como o de guitarra que encerra a faixa.
“The Day He Lied!” possui um caráter sombrio que eu gosto bastante, excelentes linhas de guitarra, seção rítmica maciça e teclados que a preenchem por todos os lados, dando à peça uma espécie de ar épico. Uma pausa para algumas notas de piano para então regressar ao tema central foi uma ótima ideia. Por último, mas não menos importantes, os vocais soam com uma emoção verdadeira. “The Seventh Darkness”, logo em seus primeiros segundos a banda já surpreende com o uso de metais, cortesia das participações especiais de Chris 'BeeBe' Aldridge (saxofone) e Nick Dewhurst (trompete). Ainda sobre os metais, eles me lembram um pouco os usados em “Colours” do Phil Collins a partir do seu segundo terço de música. A guitarra é bastante densa e a cozinha é sólida, enquanto que os teclados de certa forma são mais apagados, já que o saxofone e trompete “roubaram” o seu lugar. Se tornou uma das minha músicas favoritas de todo o longo catálogo da banda.
“Broken City”, além de novamente haver uma entrega instrumental muito boa, acho justo mencionar a performance vocal que é a melhor de todo álbum. Inicia com algumas batidas que parecem vir de longe antes que teclados e vocais façam um duo que logo em seguida ganha a companhia do violão, enquanto isso, as notas de baixo são bem discretas e a bateria inexiste. “I Wanna Live”, começa por meio de algumas bonitas notas de piano, mas aos pouco, vai ganhando força até explodir com a entrada da bateria. Aqui a banda entrega aquele seu tipo de som característico, principalmente no refrão que tem o cheiro dos anos 80. Muito melódica, possui um excelente solo de guitarra e outro de teclado - que embora seja bem simples é muito adequado para a música.
“Borderline”, com os seus mais de 6 minutos é a maior música do disco e também a que o encerra. Não sei exatamente se foi intencional, mas essa peça combina não apenas com o final do álbum, mas serve também como um final de história - que imagino que vai acontecer - para a banda. Primeiramente, ela entrega algumas vocalizações influenciada pela música do oriente, mas depois tudo se direciona para um hard rock de batida média. Os vocais soam intensos, as linhas de guitarra - seja base ou solo - são muito boas, assim como as invertidas de teclado que ecoam por todas as paredes da faixa, enquanto que baixo e bateria constroem uma cozinha sólida. Tudo isso, unido ao piano extremamente elegante e que direciona o álbum para o seu final, faz com que Here Comes The Rain termine de forma melancólica, como quem de alguma forma que expor a tristeza de uma perda - embora Clarkin, obviamente, não tivesse morrido ainda durante a composição dela.
Infelizmente, a banda nunca teve o seu reconhecimento e valorização condizente com a oferta de bons discos que eles produziram durante os seus 50 anos de carreira. Para se ter uma ideia, eu dentro do meu anonimato possuo no meu Instagram basicamente o mesmo número de seguidores que a banda. Mas ainda bem que vivemos em uma época que a internet possibilita que justiça seja feita por aqueles que querem fazer justiça - mesmo que tardiamente -, pois todos os discos do grupo - de estúdio e ao vivo - estão em todas as plataformas de streaming, só chegar lá e maratonar todos eles. Resumindo, embora Here Comes The Rain não entregue nenhuma inovação ou qualquer tipo de surpresa - exceto pelo uso de metais em “The Seventh Darkness” -, novamente a banda mostra com muita competência em suas habilidades composicionais, bom gosto para melodias e consistência em todas as 10 faixas do álbum.
NOTA: 7.5/10
Gênero: Hard Rock
Faixas:
1. Run into the Shadows - 5:22
2. Here Comes the Rain - 4:37
3. Some Kind of Treachery - 4:32
4. After the Silence - 4:35
5. Blue Tango - 5:26
6. The Day He Lied - 4:35
7. The Seventh Darkness - 4:44
8. Broken City - 4:40
9. I Wanna Live - 5:29
10. Borderline - 6:16
Onde Ouvir: Plataformas de Streaming e Youtube
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