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segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Soniq Circus - Cursed Cruise (2025)

                                       

Soniq Circus é uma banda sueca que tem em sua característica uma fusão envolvente de influências que incluem o rock progressivo clássico, sendo influenciados por bandas como Genesis, King Crimson e Rush e o metal progressivo de bandas como Dream Theater e Opeth, que acrescenta uma dose de complexidade técnica e atmosferas densas. A banda explora dinâmicas instrumentais sofisticadas, passagens harmônicas e mudanças de tempo, mas sempre buscando equilibrar a acessibilidade das melodias com a profundidade das composições. Essa mistura de influências cria uma sonoridade envolvente capaz de agradar tanto os fãs de rock progressivo tradicional e clássico quanto os apreciadores do metal progressivo e sua tecnicidade. 

Apesar de dois discos de estreia promissores, Soniq Circus (2007) e Reflections in the Hourglass (2011), foi em 2025 que a banda realmente alcançou seu grande feito com o lançamento de Cursed Cruise. Nesse álbum o grupo demonstrou uma evolução impressionante, não apenas aprimorando seu som, mas também explorando novas possibilidades dentro do rock progressivo de maneira extremamente criativa.

Em Cursed Cruise a banda conseguiu integrar suas influências do progressivo clássico e metal progressivo entregando uma sonoridade fresca e contemporânea. A produção do álbum trouxe uma mistura de elementos inesperados, como, por exemplo, o uso mais ousado de improvisação enquanto mantinham a complexidade técnica que caracteriza o gênero. O disco se destaca por sua capacidade de levar o rock progressivo moderno a um tipo de lugar capaz de capturar tanto os fãs mais tradicionais quanto os ouvintes em busca de algo diferente dentro da cena atual. 

“Unbegun" é a peça de abertura e desempenha um papel fundamental na definição da atmosfera e do tom do álbum. Totalmente instrumental, a faixa tem uma combinação de elementos pesados e sutis. A música se destaca por suas variações dinâmicas que incluem riffs agressivos e pacíficos de guitarra, uma seção rítmica bem construída por um baixo firme e uma bateria que cria um groove envolvente, enquanto os teclados oferecem uma camada sinfônica que adiciona profundidade à música.

“Let the Game Begin” é o épico do disco, ultrapassando os 16 minutos de duração. Uma música que explora uma vasta gama de paisagens sonoras ao mergulhar em trechos de metal progressivo nos momentos pesados e agressivos, e que são alternados com um rock progressivo sinfônico que cria um equilíbrio perfeito entre complexidade e melodia. A guitarra e o teclado estão sempre se entrelaçando de forma dinâmica, enquanto a seção rítmica sólida serve de alicerce para as variações mais ousadas e as transições que a faixa necessita pra funcionar bem. Mesmo em passagens mais tranquilas, onde a instrumentação se torna mais contida e os vocais se tornam mais melódicos e delicados, a música mantém uma tensão que prepara o terreno para a retomada das seções mais intensas.

Vale destacar também a habilidade de “Let the Game Begin” em fluir sem perder a coesão apesar das várias mudanças de andamento e estilo. A peça sabe exatamente quando explorar cada um desses momentos e como conectá-los de uma forma orgânica. Cada seção tem seu propósito claro dentro do contexto da música e a transição entre elas nunca parece forçada, onde mesmo com as variações no ritmo e nas texturas a faixa permanece bem direcionada.

"Cold Water" abre com um riff robusto e marcante de guitarra que imediatamente estabelece uma atmosfera poderosa e envolvente, então que o restante dos instrumentos se junta a ela e a sonoridade se transforma em uma parede de som pesada e cheia de intensidade com destaque para solo de teclado. Conforme a música avança a banda equilibra o peso inicial com uma transição para uma linha mais melódica e que se torna o coração da canção, mostrando dessa forma a capacidade da banda de mesclar força e sensibilidade de maneira fluida.

"The Quarrel" abre com uma sonoridade que remete à uma trilha sonora de um filme de guerra em um de seus momentos mais tensos, dramáticos e que evocam imagens de conflitos épicos. Então que a banda se alterna entre momentos de peso e intensidade, onde guitarras e bateria assumem o protagonismo, mas sendo sustentados por arranjos sinfônicos, porém, mesmo nas partes mais pesadas, os teclados permanecem presentes e marcantes, adicionando uma textura rica que complementa a densidade instrumental.

"The I of The Storm" representa uma clara influência do neo progressivo ao estilo de bandas como IQ por meio de passagens melódicas e atmosféricas, mas também incorpora o peso e a complexidade técnica características do Dream Theater, equilibrando momentos introspectivos e explosões de energia. Os vocais em particular remetem ao estilo de James LaBrie, com linhas emocionais e potentes que se destacam ao longo da música.

"The Accident" é mais uma demonstração clara da habilidade da banda em criar músicas onde o equilíbrio entre os instrumentos é o verdadeiro destaque. Guitarra, teclado, bateria e baixo trabalham em perfeita harmonia criando uma sonoridade bastante coesa. A guitarra oferece riffs e melodias que guiam a faixa com fluidez, além de um belo solo na parte final, enquanto os teclados adicionam camadas de profundidade inserindo um toque atmosférico à composição, por fim, a bateria e o baixo criam a seção rítmica e melódica garantindo que tudo se encaixe bem. 

"Achilles Down" inicia por meio de um piano delicado e que evoca um clima introspectivo e emocional que acaba sugerindo a possibilidade de uma balada. No entanto, a peça se transforma, onde ao longo dos seus quase 8 minutos, as mudanças de direção são uma constante, porém, novamente a banda demonstra grande domínio técnico e criativo ao explorar diferentes atmosferas e ritmos sem que em momento algum ela pareça dispersa.

“In Metal Rust” é outra música completamente instrumental. Começa por meio de uma sonoridade atmosférica antes de se tornar um dos momentos mais pesados do disco, seguindo assim até pouco mais da metade, quando um piano cria uma espécie de antes e depois, com isso, a banda entre em uma sonoridade mais melódica sob um excelente solo de guitarra até que o tema pesado inicial retorne antes da peça terminar.  

"Cagnazzo" inicia com um arpejo de guitarra que estabelece uma base introspectiva. A partir daí, a faixa se desenvolve com uma instrumentação rica, incluindo a inserção pontual de trompetes que adicionam uma camada de sofisticação e um toque inesperado à sonoridade. A guitarra assume um papel mais discreto e permite que os teclados se destaquem com arranjos criativos e texturas variadas. A seção rítmica mantém sua precisão ao proporcionar uma base estável. Os vocais também se destacam e usam de uma entrega emocional e intensa chegando a soar teatral em determinados momentos.

"In the End", com pouco mais de dois minutos de duração é a faixa mais curta do disco, mas sua brevidade não diminui sua força. A música segue uma linha predominantemente acústica, com violões criando uma base delicada e intimista que se destaca por sua simplicidade, sendo enriquecida por orquestrações suaves dos teclados. Ainda há espaço para um solo de guitarra elegante e emocional que complementa o clima introspectivo.

"The Last Casualty" é a música que finaliza o disco e se destaca por sua sonoridade mais otimista, algo que parece ter sido feito de forma proposital. A composição carrega uma leveza que contrasta com a intensidade emocional presente em grande parte do álbum, funcionando quase como um alívio após uma jornada sônica mais complexa. Embora seja uma das faixas mais simples, sua instrumentação é belíssima, com a banda optando por um arranjo mais direto, onde cada instrumento trabalha de maneira precisa, equilibrada e sem exageros. 

Em um mundo cada vez mais imediatista e que a atenção do público mesmo entre fãs de rock progressivo parece favorecer obras mais compactas, um disco de 72 minutos talvez seja encarado inicialmente como um desafio. No entanto, Cursed Cruise prova que ainda é possível entregar uma obra longa que não apenas mantém a coesão, mas também faz cada minuto valer a pena. Um disco de sonoridade bem estruturada com cada faixa contribuindo para a narrativa musical geral, onde nada soa supérfluo ou deslocado e tudo tem um propósito. 

NOTA: 9/10

Gênero: Rock Progressivo

Faixas:

1. Unbegun - 6:00
2. Let the Game Begin - 16:24
3. Cold Water - 4:27
4. The Quarrel - 6:48
5. The I of the Storm - 3:55
6. The Accident - 8:30
7. Achilles Down - 7:54
8. In Mental Rust - 5:23
9. Cagnazzo - 6:00
10. In the End - 2:12
11. The Last Casualty - 4:24

Onde Ouvir: Plataformas de Streaming, Bandcamp e Youtube

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