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sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Limite Acque Sicure - Un'Altra Mano Di Carte (2025)

                                       

O Limite Acque Sicure é uma banda italiana de rock progressivo formada em 2005 na cidade de Ferrara. Inicialmente o grupo dedicava-se a interpretar clássicos do rock progressivo, especialmente do Banco del Mutuo Soccorso, banda que é uma influência marcante em seu trabalho. Com o tempo eles consolidaram sua formação e identidade musical, o que resultou em composições próprias que mesclam o espírito aventureiro do rock progressivo clássico com uma abordagem contemporânea. 

Em 2022 a banda lançou seu álbum de estreia autointitulado. Este trabalho apresenta um conceito bem definido ao explorara de maneira profunda temas como transformação, tomada de riscos e evolução, tanto no aspecto humano quanto no campo artístico. A sonoridade do disco é marcada pela diversidade de influências variadas de seus integrantes que abrange desde o metal e o fusion até a música clássica e, claro, o rock progressivo. Destaque para a releitura da suíte “Il Giardino del Mago”, do Banco del Mutuo Soccorso, sendo uma clara homenagem às raízes e às inspirações que moldaram a identidade da banda.

A formação atual é composta por Andrea Chendi nos vocais, Ambra Bianchi na flauta, vocais e harpa, Antonello Giovannelli nos teclados, Luca Trabanelli nas guitarras, Paolo Bolognesi na bateria e Francesco Gigante no baixo. Cada um dos membros carrega consigo uma bagagem musical singular que enriquece a musicalidade da banda com suas influências distintas. Essa diversidade de experiências e estilos se reflete na identidade musical do grupo, resultando em uma fusão dinâmica e expressiva que permeia suas composições.

Un'Altra Mano Di Carte, o mais recente trabalho da banda, é um álbum conceitual que apresenta seis narrativas distintas, cada uma abordando aspectos profundos da condição humana. Através de suas composições o disco explora temas como a maldade inerente ao ser humano, o narcisismo, grandes conquistas ao longo da história e as injustiças sociais que marcaram diferentes épocas. Com uma abordagem lírica e musical envolvente, o disco conduz o ouvinte por um percurso intenso, reflexivo e que destaca a habilidade da banda em combinar complexidade temática com uma sonoridade rica e dinâmica.

"Joker" abre o álbum com uma sonoridade intensa que é impulsionada por um riff poderoso de guitarra e uma seção rítmica firme. A energia inicial dá lugar a um momento mais contido quando os vocais, claramente influenciados pelo Gentle Giant, entram em cena e trazem nuances sofisticadas à composição. Um dos pontos altos da faixa é o trabalho de cravo que adiciona uma atmosfera vibrante com suas linhas otimistas, contrastando com o piano que assume um tom mais sombrio durante a pausa que acompanha o coro. À medida que a música se aproxima do final a instrumentação se torna cada vez mais sinfônica. 

"Il Racconto Di Juan Della Sua Terra" é uma obra que respira a essência da escola progressiva italiana. A composição mescla de maneira hábil elementos de música medieval, folclórica italiana e rock progressivo, criando assim uma atmosfera sônica multifacetada. O grande trunfo dessa peça está no trabalho coletivo da banda, onde cada instrumento se encaixa perfeitamente, desde as guitarras precisas e a bateria técnica até as linhas profundas de baixo. Os teclados sinfônicos adicionam uma camada de grandiosidade, enquanto o vocal evocativo guia a narrativa e traz uma carga emocional que se entrelaça com a complexidade da composição. 

"Natale 1914" é uma peça inspirada no primeiro Natal da Primeira Guerra Mundial. Um dos grandes destaques da música é a performance de Ambra Bianchi, que em momentos pontuais, com seu canto soprano confere à faixa um toque etéreo e celestial. A música se alterna entre passagens mais taciturnas e linhas mais edificantes. A alternância de atmosferas do sombrio ao sublime torna essa uma peça emotiva e refletiva que captura a essência do contraste vivido pelos soldados e civis durante um período histórico tão marcante.

"Non Il Bergerac" tem um início marcado por um estudo para piano bastante sofisticado. Em seguida a peça ganha ainda mais profundidade com a entrada dos vocais emotivos que conduzem a melodia com muita sensibilidade. À medida que a música se desenvolve o arranjo se expande e incorpora todos os instrumentos em uma construção sonora belíssima. Embora a seção rítmica seja sólida e as guitarras se encaixem de forma precisa – incluindo um belo solo -, o teclado é o destaque ao adicionar camadas sinfônicas e uma atmosfera grandiosa à composição. Outro ponto alto é a participação de Ambra Bianchi nos vocais de apoio que enriquecem a carga emocional da música. 

"Chita" traz Ambra Bianchi nos vocais conduzindo a narrativa comovente de uma música que aborda a luta pela emancipação feminina e o sofrimento prolongado das mulheres que são frequentemente tratadas como cidadãs de segunda classe ao longo da história. Sua interpretação reforça o impacto emocional da letra. A instrumentação é construída com equilíbrio e sensibilidade, onde piano e guitarra se entrelaçam brilhantemente e mantem a fluidez da peça. Enquanto isso,  baixo e bateria se apresenta de maneira envolvente e criam uma estrutura firme que sustenta todo o arranjo. No final, Ambra ainda dá uma verdadeira aula de canto que remete a ninguém menos que Clare Torry e sua performance emblemática em “The Great Gig in the Sky” do Pink Floyd. Sem dúvida, uma composição poderosa e emotiva.

"Storie Perdute" encerra o álbum com uma sonoridade progressiva poderosa repleta de vigor e paixão. A faixa se destaca pela sua dinâmica bem direcionada que se alterna com maestria entre momentos de força e outros atmosféricos. A seção rítmica ancorada pelo baixo e pela bateria novamente se apresenta bastante enérgica ao construir uma base sólida e pulsante. A guitarra se mostra expressiva e marcante ao adicionar camadas de profundidade à composição. O trabalho dos teclados, seja por meio de órgão, Mellotron ou sintetizadores, cria paredes sonoras que ajudam a ilustrar uma aura quase etérea da peça. 

Un'Altra Mano Di Carte é uma obra que encapsula toda a essência do rock progressivo italiano ao combinar sofisticação instrumental, riqueza melódica e temáticas profundas. O disco transita entre momentos de maior intensidade e passagens mais atmosféricas e reflexivas, mas sempre com uma construção sonora detalhada e bem direcionada. A banda demonstra um domínio técnico impressionante ao criar arranjos que valorizam tanto o virtuosismo individual quanto o trabalho coletivo. A seção rítmica é poderosa e dinâmica, fornecendo uma base sólida para guitarras expressivas e teclados exuberantes, que vão do cravo e órgão ao Mellotron.

Os vocais alternam entre interpretações emotivas e passagens mais etéreas, com Andrea Chendi transmitindo profundidade e sensibilidade em suas performances, enquanto Ambra Bianchi adiciona um toque celestial com sua voz soprano e contribui para a harmonizações que eleva ainda mais o impacto emocional do álbum. Resumindo, Un'Altra Mano Di Carte é um trabalho sofisticado e musicalmente envolvente que consolida a Limite Acque Sicure como uma banda que honra as tradições do rock progressivo italiano ao mesmo tempo em que imprime sua própria personalidade.

NOTA: 9.7/10

Gênero: Rock Progressivo

Faixas:

1. Joker - 8:35
2. Il Racconto Di Juan Della Sua Terra - 7:20
3. Natale 1914 - 10:13
4. Non Il Bergerac - 8:02
5. Chita - 8:56
6. Storie Perdute - 8:14

Onde Ouvir: Youtube

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Limite Acque Sicure - Un'Altra Mano Di Carte (2025)

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